sábado, 4 de junho de 2011

Pedra rio abaixo



Eu, sendo Pedra rochosa,
Filho de um grande lajedo,
Pr’uma vida grandiosa,
Decidi e, logo cedo,
Sedento por desafio,
Embolei até o rio
Me agarrando à correnteza,
Começando uma viagem
Sem bilhete de passagem
Nas águas da incerteza.

Preso só a libertade
De não se prender a nada,
Seguia o rio com vontade
Numa rota sem parada
E pra onde o rio seguia
Confesso que não sabia;
Mas me era indiferente,
Pois pra mim era o bastante
Ser a Pedra itinerante
Que seguia sempre em frente.

Diferente das demais;
Pobres Pedras incrustadas,
Estaticamente iguais
E de lodo lodeadas.
Pedras paradas qu’eu via,
Enquanto o curso descia
Cada vez mais confiante
De que eu que estava certo,
Um monolito liberto,
Uma Pedra itinerante!

Mas, porém, não obstante,
Eu pequei em não notar
Que a água a todo instante
Estava a me desgastar
E d’arranho em arranho
Já não tinha o tamanho
Que ao cair no rio eu tinha
Pois , pra quem beirava um pão,
Eu já tava tal um grão
Peneirado da farinha!

E nessa pisada eu vinha
A ponto de me acabar,
Foi então que ao fim da linha
Esse rio tornou-se mar
E nesse mar marejado
Terminei sendo empurrado
Pelas ondas pr’outra raia
Onde concluí, do todo:
Melhor ser Pedra com lodo
Que’um Grão de areia na praia!

João Pessoa, 04/06/2011.

Um comentário:

Anônimo disse...

Poeta menino Jessé..

Ouça SOLIDÃO DE AMIGOS de Jessé
há nela um verso que acho lindo e que deve ser sempre pensado:-
"quando a cachoeira,
desce nos barrancos,
faz a base inteira ,
se encolher de espanto."
Na vida somos rochas , pedras sujeitas ao jogo do destino.No caminho passamos como as rochas da cachoeira por uma erosão regressiva e nas opções tomadas por uma erosão progressiva que nos tritura de AMOR, SOLIDÃO e nos reduz a cacos de seixos rolados.Mas, aprendemos...
Abração