sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Soneto do Poeta em Luto

Assim morre um amor e nasce um verso,
na grama sobre a cova, esverdeada;
um verde musgo, frio e em terra imerso
é cobertor cobrindo minha amada.

A rima é triste, pobre e nublada;
a métrica enlutada compreende
que ontem muito fui, hoje mais nada;
a inspiração não mais me surpreende.

Ao custo que escrevo esse soneto
me sinto a folha d’árvore caída
que ainda vive, mas já não tem vida.

Em teu sepulcro, hoje lhe prometo
que nunca irei chorar por teu sorriso
e logo encontro a ti no paraíso.

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 23/01/2009.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Meu rio chorou esgoto!



Com sua água afiada
Pelas pedras de amolar,
Desces terroso, a cortar
A cidade enviesada;
E lá herdeiros do nada
Com suas redes de arrasto
Acham apenas um vasto
Rastro de poluição;
Tendo, no rio, a visão
De um destino nefasto.

Jazes tristonho e calado;
Sem atenção despertar,
Sem ter ninguém pra chorar,
Sem ter um advogado;
E assim foste condenado
A carregar a nojeira
De uma gente ribeira,
Um povo vil que te afoga;
Pede fartura, mas joga
Míngua pela tua beira!

Onde morreu tua vida?
Onde enterraram teus peixes?
Hoje só restam os feixes
De água “esgotenecida”;
E a criança sofrida
Dentre os entulhos se banha
Na correnteza castanha
Por onde escoa teu fim...
Capibaribe-mirim,
Em teu perder ninguém ganha!

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 19/01/2009

domingo, 18 de janeiro de 2009

Eu vi os Seios da Lua no Decote do Horizonte

- Um mote de Antônio Telha -

Corre um mundo de cana
Pelos dois lados da pista,
Pra onde se vai à vista
A noite seguirá plana;
Nesta paisagem caiana
Que é pintada na fronte
- Por entre o rio e a ponte,
Na displicência só sua -
EU VI OS SEIOS DA LUA
NO DECOTE DO HORIZONTE

Um vento frio, sereneiro,
Sobe a ladeira do Borge*
E ali um treminhão foge
De um fim açucareiro.
Nega varrendo o terreiro,
Uma cadeira defronte;
A santa, o jarro, a fonte;
Galinha, porco, perua
E EU VI OS SEIOS DA LUA
NO DECOTE DO HORIZONTE

Estrelas prenhas de luz,
Nuvens tom de cinza forte,
O cheiro da mata-norte
Que o mel de engenho produz;
E a noite assim se conduz,
Subindo e descendo o monte,
Caiando a beira da fonte
Pra nega se banhar nua
E EU VI OS SEIOS DA LUA
NO DECOTE DO HORIZONTE

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 18/01/2009



*Ladeira do Borge é uma das ladeiras que dão acesso a cidade de Timbaúba

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A Puta



Seu cabelo impermeável,
Por fumar perdeu o baço
E a tatuagem no braço
- Com um nome mal borrado -
Delata um caso antigo
De um amor bandoleiro,
Que talvez fosse o primeiro
Por ela experimentado!

Os dentes qu’inda lhe restam
Mastigam grande bravura;
Tetas já pela cintura
E seu órgão, antes ledo,
Hoje é um malfazejo
Esbanjando infecção.
Quem ali passá-la mão
Chorará perdendo o dedo!

Mas essa pobre mulher
Que nunca aprendeu a ler
Precisa sobreviver...
Não medindo o que faz,
Procura pelos tarados
Nas portas dos cabarés
E pr’essas baixas ralés
Se vende por dez reais!

João Pessoa, 12/01/2009.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Nas Pegadas de Limeira

(Baseado nos versos do poeta Zé Limeira)

Nas pegadas de Limeira
"No vergel da ventania"
Vi um sapo numa jia
Um matuto na rameira
Dom Pedro com caganeira
No sertão de Bogotá
Vi um gato ensaboá
O sovaco em pleno rí
"Tanto faz daqui prali
Como dali pracolá"

"Feliz da mesa que tem
Costela de guaiamum"
Vendo três, entrego um
Eu não abro nem pr’um trem
Presidente disse amém
Em plena mesa de bar
Depois foi furufunfar
Com a filha do prefeito
Napoleão foi eleito
Pr’um cabaré governar!

"É da tampa pipocá"
No fogo de sete gatos
Já tou ensinando aos ratos,
Com camisinha trepá
Pruqui-pruli-proculá
Nas andanças do caminho
Jesus disse bem baixinho
Pra madalena escutá:
"No dia que eu me zangá
Mato você de carinho!"

Autor: Jessé Costa.

João Pessoa, 07/01/2009

Quem é a mulher do Cão?

- Um causo timbaubense -

Doralice é uma moça
Que de moça não tem nada;
Faz na cama, no banheiro,
No terreiro e na escada.
Da fruta prova de cacho,
Come tudo que é macho,
Bem dizer, vive pelada!

E Dôra se apaixonou
Por conhecido ladrão,
Que o povo famigerou
Pelo apelido de “Cão”,
Matador por profissão
Que já era emansebado
Com outro couro furado;
Pia mesmo a confusão!

Quando a nega do cachorro
Dava uma vacilada,
Dôra subia no morro
Só pra dar uma pimbada,
Mas de tanta cachorrada
O boato se espalhou
E a outra escutou;
Tava a briga arrumada!

Deu-se, no lavrar do tempo,
O encontro inesperado
E formou-se o contratempo...
A mulher do procurado,
Já de dedos apontados
No mêi da cara de Dôra,
Disse: Sua traidora,
Vou lhe dar o meu recado!

“Sou bafo da espoleta,
Nunca perdi uma briga
E não vai ser uma preta,
Do bucho chêi de lombriga,
Que vai quebrar minha viga!
Eu sou a mulher de cão!”
E Dôra disse: E então,
E eu num sou a rapariga?!


Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 08/01/2009

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Encantamento

Cultivar um encanto é perigoso;
Quanto mais um encanto de desejo,
Que se encanta nos traços de um beijo
E termina no canto de um gozo
- Um suspiro faceiro e melindroso;
Que alteia a bandeira do furor,
Hasteada no pátio do fervor -
Pra virar do avesso os sentidos;
Entre gozos, suspiros e gemidos...
Dando vida a um quadro de amor!

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 20/12/2008

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Só entre Nós e o Povo de Mocós!

Tu vens dizer que tá apaixonado
Por um vistoso e fogoso rapaz
Que é viril e robusto demais
E te dá colo nos dias nublados?
Pois vou dizendo, seu novo viado,
Que não me importo com contras e prós
E nem tão pouco o que fazem a sós
Mas desde já fique assossegado
QU’ESSE SEGREDO SERÁ BEM GUARDADO
SÓ ENTRE NÓS E O POVO DE MOCÓS

Moça bonita se acalme e repita
Como perdeste tua mocitude
E quem é mesmo José do alaúde
E onde fica sua palafita
Mas vá rezando pra santa bendita
Que o rapaz sobreviva ao após,
Pra que da bala seja mais veloz,
Pois o teu pai sendo o delegado
ESSE SEGREDO SERÁ BEM GUARDADO
SÓ ENTRE NÓS E O POVO DE MOCÓS

Seu candidato não fique avexado
Conte, daí, donde o dinheiro sai
Pra pagar besta gritando “louvai”
E contratar cabo eleitorado.
Esse dinheiro é roubado ou lavado?
Ou foi doado por um albatroz?
E teu partido é o dos teus avós?
Se desembuche que o voto é ganhado
E ESSE SEGREDO SERÁ BEM GUARDADO
SÓ ENTRE NÓS E O POVO DE MOCÓS

Autor: Jessé Costa
João Pessoa, 06/01/2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Confabulação

Amantes que não assentam
No “til” suas discussões
Na praia que se acalentam
Avistam seus corações
Atolar em atropelos
No manguezal das paixões

Autor: Jessé Costa
João Pessoa, 05/01/2009

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Anelar do Tempo



O nosso tempo é medido
No pulsar do coração;
Às vezes passa corrido
E às vezes não passa, não!

Por estar longe de ti
O meu peito mal badala
E o relógio vai, não vai...
O dia dobra de escala

Quanto maior a distância
Que estás da minha mão,
Maior é a impedância,
Maior a dilatação!

Agora, se acaso estás
Dentre a cerca dos meus braços
O tempo se alvoroça
O sol apressa seus passos

Pois contigo ao meu lado
Sofro d’uma arritmia
Que só de piscar os olhos
Vôte! Já se foi um dia...

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 01/01/2009