domingo, 30 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
O sofá empoeirado
Não sei se eu concordo com essa teoria, mas meu sofá anda um pouco empoeirado.
as tardes a se aninhar,
onde esse amor jurava
nunca deixar de amar,
onde os braços se abraçaram,
onde os beijos se beijaram,
onde o sonho foi sonhado;
meio que sem perceber,
hoje ela olha e vê
um sofá empoeirado!
Onde olhos se olharam
e viram um par perfeito,
onde sorrisos voaram
sinceros em seu deleito,
onde uma felicidade
sem prazo de validade
dava-lhes um predicado;
hoje tudo isso enverga
ela olha e só enxerga
um sofá empoeirado!
Pois onde fora esboçado
um futuro terno e manso,
com um casal de velhinhos
em cadeiras de balanço,
de mãos dadas, se olhando
com seus olhares brilhando
no mesmo amor do passado;
lá este sonho perece
e ela só reconhece
um sofá empoeirado!
João Pessoa, 24/05/2010.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
No terreiro a fogueira de São João
Com os bolsos repletos de bombinhas
Lá têm traque, palito, estrelinhas,
Chuveirinho, peido de velha atolado
E um graveto na mão vem abrasado
Pra dar ignição nos estopins,
Os mais velhos com suas calças jeans
Vão à caça do afoito busca-pé
E a quadrilha no anarriê dá ré
Numa dança repleta de pantins
Segue a noite no embalo de um forró;
Da canjica, pamonha, munguzá
E o espeto com milho a pipocar
Na fogueira que estala sem ter dó,
Quando então o ouvido dá um nó;
É o pipoco de uma bomba cordão
Que o matuto no susto cai no chão;
Nessa hora confunde-se a aurora
Com o brilho do fogo que aflora,
Como um sol, da fogueira de São João!
São dezenas de galhos engembrados
Do mais grosso ao mais fino no final
Empilhados de forma acidental
E enlaçados num arame farpado
Onde a noite um pão velho e encharcado
Colocado na sua cumeeira
Liga a chave de fogo da fogueira
Dando vida a esta escultura;
E se tudo der certo a chama dura
Até o sol se juntar-se a brincadeira!
Jessé da Costa, 21/05/2010.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Teu beijo: o beijo...
derrubou literalmente,
pois nos teus lábios me vi
desfalecendo dormente
e desde então só me vejo
nos teus braços noutro beijo
desmaiando novamente!
Pois só teu beijo arrepia
cavalo de carrossel
e faz datilografia
nos meus lábios de papel
onde a astronomia louca
vê o céu de nossas bocas
juntos formando outro céu!
Por isso já não me vejo,
nessa imensidão de mundo,
provando o sabor de um beijo
de outra boca oriundo,
pois só penso, o tempo inteiro:
“se foi tão bom o primeiro,
imagina o segundo...”!
João Pessoa, 18/05/2010.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Cabôco bruto
brabeza tamanha ninguém nunca viu
não há homem bronco assim no Brasil
que empate com ele pra fazer fuá
quando ele se achega esvazia o lugar
a feira se acaba no horário de pico
e nem passarinho não abre o bico
que o cabra não gosta de bicho amostrado
só come cabaço, só mata arrochado
só respeita Deus e só monta burrico!
O sol se arreda e de três horas cai
se ele disser que quer dormir mais cedo
valente de fama de esconde com medo
se entoca debaixo da cama e não sai
a policia ao vê-lo não diz nenhum ai
pois já tá cansada de tanto apanhar
e o último que tentou lhe afrontar
levou um cascudo tamanho que um osso
da sua cachola desceu do pescoço
e até hoje o pobre não pode obrar!
João Pessoa, 14/05/2010.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Pé de Paixão
enchi uma cuia com caldo de sonho
pra matar a sede de um vão sentimento
que andava secando mofino tristonho
e a cuia com caldo de um sonho risonho
verteu quase toda molhando o chão
da entrada do sítio do meu coração
e onde esse caldo a terra molhou
com menos de um dia do solo brotou
um grande e esplêndido pé de paixão!
Jessé Costa, 11/05/2010.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Aversão & Anistia
no dizer de quem amou,
de quem já subiu ao pódio,
quem de amor se jubilou
e até quando terminou
falou bonito em perdão
em ter paz no coração
sem nutrir raiva ou rancor
para agora sem pudor
espalhar tanta aversão...
É triste ver tanta raiva
em alguém que tão bem quis,
inda mais quando pondero
que hoje sou mais feliz
sem macular o que fiz,
sem manchar o chão que andei,
sem criticar quem amei,
sem pisar para subir
ou falsamente sorrir
pra fingir que superei!
Eu te perdoei, meu bem,
e ainda hoje perdôo
sempre que ouço de outrem
tua raiva e teu caçôo...
te perdôo e livre eu vôo
como nunca em outra vez,
sem soberba ou altivez
te perdôo com carinho
daquele mesmo jeitinho
que você disse e não fez!
Jessé Costa, 10/05/2010.
sábado, 8 de maio de 2010
A melhor do mundo
D’eu ser tão feliz assim
e ter mantido a conduta
longe de tudo que é ruim
é retrato da aliança
onde destes como herança
tudo quanto é bom em mim!
E eu vou encher o tanque
do peito com emoção,
depois subir no palanque
que tem no teu coração
pra lá de cima gritar
que outra mãe igual não há
e tá ganha essa eleição!
Timbaúba, 08/05/2010.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Paulo pedreiro e o sonho de voltar
Paulo pedreiro peleja
Contra pisos, casas, muros
Faz a massa e a despeja
Num tijolo de oito furos
Erguendo sonhos futuros
De alguém que mal conhece
Enquanto o que lhe apetece
É voltar pra seu cercado
Replantar o seu roçado
E viver de sua messe!
Danou-se pra capital
Quando veio a grande seca
Deixando seu cabedal
Guardado só pela cerca
Mas hoje olhando pra Têca
Fala com vivacidade
Da paz e simplicidade
Que corria no curral,
No alpendre e no quintal...
- Eita Têca, que saudade!
E Paulo já fez projeto
De um grande galinheiro
Planejou tudo correto
Só lhe falta ter dinheiro
Pois a vida de pedreiro
Mal vence os gastos do mês
Mas se não for dessa vez
Logo mais noutro serviço
Paulo enriquece o toitiço
E volta pra Santa Inês!
João Pessoa, 07/05/2010.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Divagações
por que que não se apaga?
Se permanece a queimar,
por que que não ferve a água?
Se a chuva só enxágua,
por que o açude encheu?
E a nuvem que choveu
secou no mesmo segundo?
Quem sabe menos do mundo
sabe muito mais que eu!
Por que se teme o escuro
se é assim dentro da gente?
É verdade que o futuro
mora de frente ao presente?
Como saber realmente
se ganhou-se ou se perdeu?
Foi à maré que encheu
ou o mar já era fundo?
Quem sabe menos do mundo
sabe muito mais que eu!
Por que a batata doce
não sofre de diabete?
Por que que um sonho bom
nas noites não se repete?
pode dizer que venceu?
E todo o amor que morreu
deixa o peito infecundo?
Quem sabe menos do mundo
Sabe muito mais que eu!
João Pessoa, 05/05/2010.
domingo, 2 de maio de 2010
Pedro Operador de Prensa
imprensando o pensamento.
São oito horas por dia;
haja sol, chuva ou vento;
frente à prensa ele não pensa,
usa apenas força intensa;
pois nunca quis estudar,
nunca teve paciência
pra diabo de ciência
e cedo foi trabalhar!
Pedro operador de prensa
é juntado com Maria,
sobrinha de quinto grau
da prima de sua tia.
É Maria Antonieta,
mas Pedro a chama de preta
e a preta o chama de amor,
coisa de quem muito ama:
na rede, no chão, na cama
só dá Pedro Operador!
E amanhã é feriado,
a fábrica fechará.
Pedro larga e vai pra casa,
mas antes para num bar...
Cansado e coçando os calos
toma cabeças-de-galos,
amendoim, catuaba
e imaginando a noite
pensa: vou dá-lhe um acoite
que hoje a Preta se acaba!
Pedro chega em casa afoito,
Preta sentada no chão
com um balde no seu colo:
tá debulhando feijão!
Cansada de lavar roupa,
tá só esperando a sopa
ferver e chegar no ponto;
já o Pedro impaciente,
com seu instinto fervente,
já tá pra mais do que pronto!
A sopa tava Insossa,
Preta é triste de panela,
mas Pedro nem fala nada,
pois gosta é das pernas dela.
E terminado o jantar:
olha a louça pra lavar...
Lá vai Preta pra cozinha!
Na sala a TV no jogo:
tá Pedro cheio de fogo
tomando uma cervejinha!
A Preta surge na sala,
já livre dos afazeres,
pronta pra o Operador
lhe operar vários prazeres;
Pedro a levanta no braço,
dá-lhe um primeiro regaço
e se dana para o quarto,
onde a cama já surrada
amanhecerá suada
e quase tendo um enfarto!
Pedro Operador e Preta
podem ser ignorantes,
porém são dois literatos
nos critérios de amantes;
não almejam muito ter,
muito ser ou parecer;
só querem levar a vida
e, nessa simplicidade,
vivem na felicidade
ou em coisa parecida!
Grande Pedro operador
que o que carece em vintém
sobra de muito no amor
que o seu coração retém,
Pedro operador de prensa:
se pouco fala, e não pensa,
compensa na atitude;
não quer ter riqueza ou casta,
só a sua Preta basta
pra viver na plenitude!
Pedro operador de prensa,
mínimo assalariado;
pouco fala, nunca pensa;
é semi-alfabetizado;
não tem carro, não tem casa,
seu salário sempre atrasa,
seu nome sujo na praça,
mas se a Preta não reclama,
se a Preta inda lhe ama,
tudo tem sentido e graça!
Timbaúba, 02/05/2010.