segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oração de um fela da puta apaixonado



Quanto tempo, meu Deus, que já passou
Quanto tempo, meu Deus, daquele rosto
Quanto tempo, meu Deus, daquele gosto
Quanto tempo, meu Deus, e aqui estou
Pois no tempo, meu Deus, quem triunfou
Na batalha do Adeus que nós travamos,
Se esse tempo passou e não passamos
De dois corpos completamente ocados?
Me responda, meu Deus, se estão errados
Os caminhos da vida que tomamos?!

Me responda se o tempo encerra em dolo
Ou se o tempo com tempo o tempo aplaca
Diga a nossa coragem o quanto é fraca
E esse nosso orgulho o quanto é tolo
Depois diga, esse amor, aonde pô-lo
Pra jamais outro alguém lhe maltratar
E, meu Deus, sem querer lhe atazanar
Me responda mais outro atrevimento:
Onde estava, Senhor, seu pensamento
Ao deixar que nós dois formasse um par?!

Timbaúba, 28/02/2011

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A vitória da vida e coisa e tal

As sextilhas que seguem mais abaixo foram inspiradas num Bornal do poeta Cícero Moraes (CM) que estava pendurado e esquecido há tempos numa parede dos fundos de sua guarida. O caso é que nesse Bornal, que outrora era usado para carregar os frutos das caçadas do poeta, um passarinho (garrincha) deu por fazer seu ninho e lá o poeta ao fazer uma vistorio acabou por encontrar 5 pequenas garrinchinhas filhotes. E foi justamente com esse fato em mente que nós dois desapeamos a escrever as seguintes sextilhas:





CM

Bornal velho aposentado
Já trouxeste das caçadas
Muitas vidas já extintas
Dos bichinhos das chapadas
Há tempos trazias morte
Hoje, vidas renovadas

JC

Dos frutos das espingardas
Há muito fostes nutrido
Hoje matas tua fome
Sendo abrigo guarnecido
Do viver que vistes morto
E agora tu vês nascido!

CM

Vejo um filhote crescido
Ao lado de outros mais
A morte já não habita
Tuas fibras de cizais
És hoje um local sereno
Não verás sangue jamais

JC

Servindo pr’outros Bornais
De espelho em sua causa e sorte
Mostrarás que a vida é grande
Mostrarás que a vida é forte
E que onde ela começa
Não tem espaço pra morte!

Timbaúba, 27/02/2011.


********

Pois não é que um tanto depois eu fui perguntar ao poeta Kerlle de Magalhães o que o danado tinha achado dos versos. E o caso é que o mesmo já havia visto a poesia no site do poeta Cícero Moraes e disse que tinha achado arretado, mas não tinha atinado que JC se referia ao meu nome. Daí não resisti e desatei, dizendo pra o poeta a seguinte setilha nota de esclarecimento:

Esse JC da rima
Que o povo gosta ou desgosta
E se assina assim por cima
Da estrofe troncha e posta
Não é Jornal do Commércio
É o JC do néscio
E poeta Jessé Costa!

Timbaúba, 27/02/2011.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Alegria no palco da loucura



Sou palhaço do circo de um real
Onde a graça sai quase que de graça
Mas o riso sincero se transpassa
Da piada, pilhéria, do irreal.
Se a platéia me aplaude é um sinal
De que meu existir ainda importa
Na pobreza do circo me conforta
Os sorrisos terceiros, pais dos meus,
Honorários presentes, dons de Deus
Que a dureza dos dias, rindo, entorta!

Não qu’eu seja um eterno venturoso
Pois no rosto onde a boca o riso aflora
A menina dos olhos sofre e chora
Nos momentos do ardor mais tortuoso
Mas, amigos, sorrir é tão gostoso
E o sorriso a tantas dores cura
Que eu prefiro viver nesta ventura
De sorrir na pobreza e fazer rir...
Sou palhaço e o que eu faço é impelir
Alegria no palco da loucura!

Timbaúba, 22/02/2011.

O reboco feminino - ÁUDIO

Ouça aqui o causo do Reboco Feminino:

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Biuzin e a pintura do céu

Um causo puramente propagandista

Montado em cima duma besta alada
Num dia cinza em tom de tempestade
Biuzin voou por sobre a cidade
Deixando Timbaúba assanhada
Depois de um tempo ele parou do nada
Por sobre o pontilhão da estação
Aterrissou a sua besta ao chão
Na Casa Costa Filho adentrou
Comprou a tinta e voando pintou
De azul celeste toda a imensidão

Depois voltou pro céu levando o troco
E devolvendo o troco pra “São Pêdo”
Ouviu do Santo: Biu eu tive medo
Que esse dinheiro ainda fosse pouco
Mas o azul ficou foi do pipôco
E eu gastei praticamente nada
Ôh Costa Filho loja afeiçoada
Pôi corra o mundo e diga pros pintores
Que aqui no céu só pinta co’as cores
Daquela loja de tinta arretada!

Timbaúba, 24/02/2011.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Vai comer só esse tiquinho!?

E foi tirando cabelo dos milhos do versejar que saiu essa nossa parceria:



Ágda Moura:

Uma Macaxeira com bode
Um cuscuz de manhãzinha
Um angu com uma galinha
Um ”pirãozinho” “inté” pode
Uma buchada pro “môdi “
Nós se fartar de comer
A cajuína pra beber
E a rabada no dente
Um cafezinho bem quente
Para a barriga encher

Sacuda a “culé” de pau
Que o “manguzá” ta embolando
Bolo de milho assando
Na tapioca “bote” sal
Grande é o cangical
Vindo junto, o baião de dois
Pra nós comer a depois
Acompanhado a um chazinho
Pegue o doce seu Chiquinho
Puxe a cadeira e sente pois.

Que o cheiro ta chegando
Lá pras bandas de “aculá”
“Tráz” os “cumpadres” pra cá
vão se então se “assentando”
E o prato vai pegando
Que a culinária é uma beleza
E na prosa tem proeza
“Que’na” comida se mistura
Êta nordeste é fartura
é cultura sobre a mesa.

Jessé Costa:

É tamanha a suculência
Dos pratos da nossa gleba
Que não tem isso de peba
E tem sim muita ciência;
Jamais que eu troco a potência
Dum prato de rubacão
Por um toin de macarrão
Com um nome esquisito,
Coma quem acha bonito
Pois eu mesmo como não!

S’alguém come caracol
Que coma seja onde for
E eu já disse pro doutor
Qu'esse meu colesterol
Baixo na carne de sol
Que Teca faz com primor,
Só nunca troco o sabor
Da graxinha com inhame
Por comida de madame;
Ah, não troco não senhor!

Melando o pão com a graxa
Raspo do tacho da panela
Só não sobra a graxa nela
Se falta o pão vai bolacha.
Acho graça de quem acha
Nossa comida nojenta;
Povo besta, não atenta
Que nesses tal fastfood
Eles sim que comem grude
Pelo status que aparenta!

Parceria Internetada, 23/02/2011.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Metamorfose Forçada

O reboco feminino



Tem mulher que é ardilosa
Feia que nem um sagüi
E engana de formosa
Ao seu rosto encobrir
Porém eu lhes asseguro
Que de óculos escuro
Até um abacaxi!

Já outras se pintam qual
Um muro velho é pintado
Na base de pó e cal
Tanto buraco é tapado
Que o sorriso fica duro
E “talqualmente” no muro
O feio é recauchutado!

E nem falo das trouxinhas
Daquelas mal desenhadas
Que de garra numa calça
Que não cabe nas danadas
Mergulham na vaselina
E depois de muita sina
Vão pras festas atochadas

Mas o que mais me admira
É um cabra tendo o olho
Ainda se atracar
Nos fuás nesses trambolhos
Dando de garra com elas
Como que fosse a mais belas
As rainhas do repolho!

Pois eu acho b’empregado
Esse besta se acordar
N’outro dia e na cama
Virando, quase enfartar
Ao dar de cara com a musa
Qu’ensinou a tal medusa
Como aos homens assombrar!

Eu sou doido por mulher
Mas tem coisa que é demais
Tem mulher que exagera
Na maquiagem que faz
E se metamorfoseia
Sou mais a sincera e feia
Que a linda que se desfaz!

Timbaúba, 21/02/2011.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Oitavas de Esperança



Essa palavra esperança
Reluz do olhar da criança
Que pela vida avança
Tendo no lombo o futuro.
Futuro qu’ela nem sente
Brincando sempre contente
Com aquele peso que a gente
Fez um presente em apuro!

Por isso ao olhar o infante
Nosso olhar vai bem distante
E em nosso peito maçante
Os erros se vão pros lados
Enquanto que a criança
Bem no meio se balança
Num balanço de esperança
Que nos deixa esperançados!

Timbaúba, 19/02/2011.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Todo dia muda a cor do quadro da minha vida

Mote de Geraldo de Odilon, sugerido pela poetisa Ágda Moura:

Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida



Eu nasci roxo e chorando
Mas crescendo fui criança
Sendo o verde da esperança
Do futuro melhorando
Adulto, fui me encantando
Na paixão enrubescida
Mas minha cor preferida
É o azul de um grande amor
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida

Pra ser feliz dá trabalho
Mas pra sofrer é um pulo
Num dia me acordo chulo
No outro em risos me espalho
Qualquer padrão sempre é falho
E a previsão é perdida
Ontem fui dor, fui ferida
Hoje sou graça e torpor
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida

Já fui feio, fui vistoso
Já fui magro, fui obeso
Já fui livre, já fui preso
Já fui bravo, fui medroso
Já fui sábio, fui teimoso
Já fui paixão iludida
E enquanto me houver partida
Eu serei seja o que for
Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida

Timbaúba, 17/02/2011.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando falo do que sinto

Tema sugerido incidentalmente pela dona moça senhorita Audrey Rose do Canudo, uma cidadã de elevado potencial autístico - derivativo de autista; mas que tem um coração do tamanho da sua meiguice.
.
"E quem pode comigo quando eu digo o que sinto"



Quando falo do que sinto
Tal e qual trovão que tomba
O meu coração ribomba
E um raio toma o recinto;
Já quem ouve escuta um quinto
Do todo do pensamento,
Que ouvido não dá sustento
Pra tanto sentir que eu digo
Mas todos sentem comigo
Falando de sentimento!

Timbaúba, 27/01/2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vá s'embora me trair

Depois deste poeta aqui passar uma tarde inteira, que no mais tarde se vestiu de noite, declamando poesias sofridas e do mais alto grau da dor de cotovelo humana; eis que Seu Ferreira, o maior baluarte do carnaval de Macaparana-PE, me incumbiu da excêntrica missão de glosar o mote incidental de sua autoria: “Vá s’embora me trair que eu tou doido pra roer!”.

Na hora não saiu nada que se aproveitasse, o que não é mais do que normal dado a pequena quantidade de sangue que havia na minha corrente alcoólica, mas chegando em casa dei de garra no lápis e já comecei a rabiscar as seguintes estrofes:



Negócio de ser feliz
Não me acostumo com isso
Eu gosto é do rebuliço
D’um penar bem infeliz
Meu paradoxo diz
Qu’eu aprecio o sofrer
E se tu me bem querer
Não relute em me ferir
Vá s’embora me trair
Que eu tou doido pra roer!

Eu me atraquei contigo
Já conhecendo teu nome
E a tua infindável fome
Lá no baixio do umbigo
Não se preocupe, eu não ligo,
Só tou usando você
Pro meu amor padecer
E a poesia fluir
Vá s’embora me trair
Que eu tou doido pra roer!

Pois a minha poesia
Deflagra do sofrimento
Se enviesa pelo vento
E pousa na fantasia
Se eu quisesse a alegria
Não buscaria em teu ser
Quero a dor que mais doer
De a poesia explodir
Vá s’embora me trair
Que eu tou doido pra roer!

João Pessoa, 12/02/2011.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Respostinha cabulosa



“Vai chegar a tua hora.”

- Ora, mas só uma hora?

Isso não dá pra quem queira.

Hora passa, não demora

E volta a dor corriqueira.

Quero logo, eu quero agora

Muito mais que uma hora,

Quero logo a vida inteira!


Timbaúba, 11/02/2011.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Conversa de gente sem assunto



- Como é que é? Seu Honório Belarmino agora depois de velho deu pra mentir desse jeito, foi?

- Hômi, foi o que ele me disse...

- E tu de besta ainda leva essa mentira pra frente, bicho velho tapado!? Tome tento rapaz...

- Mas é que ele fincou pé...

- Mas olhe mesmo! Tanto cidadão que com seus 40 anos já começam a dar suas primitivas falhadas na hora “H”, pra seu Honó vir agora com essa de que com 95 anos nunca negou fogo... E ainda por cima dizer que até hoje tá com todo gás na base de 3 por dia! Vê se pode!

- Pois foi o que ele disse...

- Pois pra ser assim, só se ele agora deu pra se atracar apenasmente com mulher prenha do buchão!

- Ouxe, agora num entendi mais nada...

- É assim hômi... Porque com a mulher grávida ele amarra um confeito na bimba e chega perto na perseguida carne mijada, que aí o menino que tá lá dentro do útero, vendo o confeito, puxa o dito e o cacete meia bomba desse velho safado pra dentro! E é só assim mesmo! É só assim pra ser verdade! Assim eu acredito!

- Ave... E num é que pode ser! Já pensasse... Haja confeito, né não?! De qual Será?

- Ah minha nossa senhora! POis pergunte pra sua mãe, seu infeliz... Já que você era muito novo e não lembra!


Timbaúba, 09/02/2011

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Devaneio Lúbrico



Com todas que eu conheci
Com todas que conquistei;
Sempre um pouco eu aprendi,
Sempre um pouco ensinei;
Mas se um grande amor vivi,
Não sei!

Pois na vida que levei
Neste ponto, até aqui,
Só devaneios sonhei
Nos braços que adormeci
E se um grande amor amei,
Nem vi!

Tão somente percebi
Nos corpos que eu desbravei,
Nas ancas que me perdi,
Nos seios que me encontrei;
Que o tanto quanto eu sofri,
Gozei!

Timbaúba, 06/02/2011.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Nega branca do umbigo preto

A Princesa Anne (o bebê mais lindo do mundo inteiro), depois de quatro meses habitando no Reino de Timbaúba, está de mudança. Vai assumir o posto de Princesa “Nega branca do Umbigo Preto” no Grão-Reinado do Recife, onde futuramente assumirá o trono.

Frente a esta situação de desgarro, o bobo da corte do Reino de Timbaúba, mais conhecido como “Tio Babão”, dedicou-lhe esse mote e essa poesia:

VAI SER ANNE SAINDO PELA PORTA
E A SAUDADE EMPESTANDO A CASA INTEIRA!



Ela veio trazendo um elixir
De alegria pra vida restaurar,
Ensinando que basta para amar
Um sorriso sincero assistir
E o seu riso ao nos escapulir
Do afago, da graça ou da besteira
Era a flecha de paz audaz certeira
Que aprumava o “por quê?” da vida torta;
Vai ser Anne saindo pela porta
E a saudade empestando a casa inteira!

Desde o inicio que a gente já sabia
Que ela iria crescer noutro quadrante,
Que ela um dia iria pra distante
Nos deixando sem sua alegria,
Mas “um dia” na mente é sempre “um dia”
E ninguém se prepara se não queira.
Anne vai pra Veneza Brasileira
E o fio da distância já nos corta;
Vai ser Anne saindo pela porta
E a saudade empestando a casa inteira!

Pois o peito que enfrenta qualquer tema,
Encolhido, só falta se enfartar;
Ninguém sabe direito o que pensar
E pensar só piora o tal dilema:
Que se o ir pode vir a ser problema;
O ficar, pro futuro, é uma rasteira;
Mas que a fé seja sua companheira
E que Deus seja a luz que lhe conforta
Pois é Anne ela saindo pela porta
E a saudade empestando a casa inteira!

Vai “Meu Pingo” que aqui não te comporta
Teu futuro não é nessa ribeira!

Timbaúba, 02/02/2011.