sábado, 28 de março de 2009

João Paraíba e a Rua da Areia

Queria fazer amor
Mas não achava pareia
E assim João Paraíba
Cansou de afinar a pêia
Descabelando o palhaço
E pra quebrar seu cabaço
Correu pra Rua da Areia

E assim que chegou à rua
João viu cada visagem
Que olhando pros valentes
Quase lhe faltou coragem
Mas por tanta precisão
Prosseguiu sua procissão
Pela Barão da Passagem

Por aqueles casarões
Encontrava-se de um tudo
Dentre putas e ladrões
Tinha andrajos e veludo
Por onde a noite seguia
Na etílica alegria
Do furor mais cabeludo

Quando então nosso João
Foi desgarrando o receio
Olhou sua mão direita
E a coragem então lhe veio
Foi quando entrou numa casa
E pensou, queimando em brasa:
- Hoje eu vou mamar num seio!

Pois Ficha no jukebox
De um bar da luz vermelha
Entornou uma lapada
Prumode esquentar a orelha
E fitando rosto a rosto
Procurou um tira-gosto
Pra flambar sua centelha

Mas dentro daquela casa
Só tinha o último apelo
Só tinha um dragão de asa
Um resto de desmantelo
Mas ‘cabra’ bebo não foge
E João meio São Jorge
Já cogitava detê-lo!

A mais feia das mais feias
Perto dela era bela
Com os peitos na barriga
E a barriga na canela
Tinha tanta tatuagem
Que até malassombragem
Corria com medo dela

Quando João, aguardentado
Chamou a bicha pra mesa
Contou-lhe que era cabaço
Perguntou: tudo beleza?
E a tinhosa disse: Homi,
Hoje acabo tua fome
Com a minha sobremesa...

Foram então pra um quartinho
Que ficava atrás do bar
João se tremendo todinho
E ela pra lhe acalmar
Dizia sem embaraço:
Você é o quinto cabaço
Qu’essa noite eu vou tirar

Já no ventre da alcova
Do bordel raparigueiro
A quenga tirou a roupa
Com o charme d’um pedreiro
E no fio dessa visão
O brinquedo de João
Mostrou quem chega primeiro

Daí pra frente, confesso,
Não vi como aconteceu
No enganchado das cochas
Foi aquele “benzadeu”
E no mêi dessa procela
Enquanto João tava nela
Um cabaço se perdeu...

Finalizado o serviço,
Pagamento efetuado,
João saiu do cortiço
De sorriso abestalhado
Dizendo: Oh! Rua da areia
As casas que te ladeia
É lugar abençoado!

João Pessoa, Março de 2009.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Transversão

Hoje te vi
Tão diferente
Que um bem-te-vi
Cantou contente...

O Triste olhar
Dos olhos seus
Foi sem chorar,
Nem disse adeus;
E sem aviso
Fez-se um sorriso
Que florescia
Noutra existência:
Na veemência
Da alegria!

A luz solar
Brilhou mais forte,
E o seu andar
Criava um norte.
Nada de dor,
Toda de amor;
Quando sorria,
Em claridade,
Felicidade
Dela emergia!

Cabelo ao vento
Passo preciso
Num tempo lento
Já sem juízo
Que quase para
E se escancara
Pr’essa mulher,
A qual não chora
E hoje aflora
Meu “bem me quer”!

João Pessoa, 19/03/2009.

sábado, 14 de março de 2009

Cortinar do Picadeiro



O teu circo s'expandiu
Quando a lona foi trocada;
E você não mais sorriu
Na graça mais engraçada,
Deixou-me sem serventia
- Palhaço, sem alegria,
Chorando na palhaçada!

Mas hoje, enxugando a vista
Vou dar a volta por cima
Vou me tornar trapezista
Que no alto se sublima;
Nunca mais vou ser palhaço,
Vou ser um homem de aço
Brilhando em sua retina

E quando você me ver
Quem vai chorar é você
Quando eu fechar a cortina!

João Pessoa, 12/03/2009.

domingo, 1 de março de 2009

Desabafo Budegueiro

O matuto entorna mais uma dose de cachaça, com os olhos marejados de lágrimas saudosas; se levanta da cadeira cai-não-cai, com certa dificuldade etílica; olha pra o dono da budega, volta o olhar para seus companheiros de porre e desata a falar. Discursando sem ser ouvido ele então desabafa:


Quando a fome se tornou assolação
E no açude só restou água barrenta
Eu passei a perna em riba da jumenta
E parti atrás de uma solução,
Fui embora deixando meu coração
C’a morena que chorava de desgosto;
Mas jurei voltar, enxugando seu rosto,
E na porta eu talhei com a peixeira:
“Se a saudade aqui hasteou a bandeira
Dentro em breve o amor retoma o seu posto”!

Na cidade não achei outra opção
E tornei-me o que chamam de bóia-fria;
Na labuta tendo a largura do dia.
Minha vida era dar carga a treminhão;
Cortar cana virou minha profissão;
Na precisão isso foi a mim imposto,
Mas lembrar de Rosa me deixa disposto;
E assim, digo aos amantes desolados:
“Que a saudade, como um baú de guardados,
Guarda o amor; acrescentando cheiro e gosto”!

Todo mês eu mando um trocadinho a Rosa
E também mando dizer que estou voltando
Assim que meu Deus jogar chuva, pintando
O marrom de verde e o pau d’arco de rosa;
Mas no ‘enquanto’ vivo a vida desgostosa,
Onde nunca um sorriso é exposto;
Inda aviso aos que me querem ver deposto
E aos que, a morena, ficam atentando:
“Me aguardem, dentro em breve estou voltando
E o cacete vai cantar com todo gosto”!

Autor: Jessé Costa
Timbaúba, 28/02/2009.