quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ninguém nunca vai saber



Meu bem, se eu abrisse a boca
pra falar sobre você,
sei que ficarias louca
sem saber o que dizer!

Mas pela grande amplitude,
que meu sentimento tem,
se eu te conto toda a terra
escutaria também...

E os franceses parariam
em plena “Chanselisê”
e de amor se banhariam
se eu falasse de você!

Em Veneza os gondoleiros,
ao ouvirem meu falar,
pegariam seus barquinhos
e cruzariam o mar!

Os argentinos na copa,
pra chamar tua atenção,
cantariam nosso hino
torcendo pra seleção!

Os terroristas do Iraque
não mais se estourariam,
abortariam os ataques
e se apaixonariam!

A rainha da Inglaterra,
de tanto te invejar,
inventaria uma guerra
pra mais atenção chamar!

A Rússia e o tio Sam,
ao me ouvirem discorrer,
iriam se aliar
pra roubar, de mim, você...

E Deus vendo esse escarcéu
viria aqui intervir
e, de volta para o céu,
faria você subir!

Por isso não vou falar
o que sinto por você
e ninguém vai nem notar,
ninguém nunca vai saber!

João Pessoa, 28/04/2010.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Bebê e os Equilibristas

à minha sobrinha que está a caminho



Virás ao mundo montada
numa nuvem de bonança,
pequenina e delicada,
como um sopro de esperança;
atravessarás a sala
como quem não se abala
no mistério do futuro,
falando “mamãe-papai”
com um andar cai-não-cai
inconstante e inseguro!

Sobre a pontinha dos pés
vais correr de mão em mão,
dum lado ao outro e ao revés,
quase caindo no chão,
ante os olhos orgulhosos
de parentes, quase idosos,
bobos com tuas conquistas;
mas ao crescer notarás
que no mundo onde estás
todos são equilibristas!

João Pessoa, 23/04/2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Você é Linda!



Veja o que eu vejo ao olhar pra você
Olhe no espelho e observe por que
Cada momento ao teu lado é um sonho
E meu sorriso fica tão risonho

É, observa bem o teu espelho

Leia as linhas que ele descreve
Inunde em tua luz este aparelho
Note por que meu sorrir não prescreve
Dona, entenda quando eu destrambelho:
Ante o teu brilho meu senso entra em greve...
...VOCÊ É LINDA!

João Pessoa, 21/04/2010.

domingo, 18 de abril de 2010

Passarinho Correio



Acordei c’um passarinho
batendo em minha janela
(em seu pé um bilhetinho
e no bico a foto dela)!

Levantei os basculantes,
o passarinho entrou
deu alguns vôos rasantes
e sobre a cama pousou

Piscou os olhos, sorriu,
soltou a foto na cama;
cortou, com o bico, o fio
que prendia o telegrama

Bateu asas e voou,
cantando todo contente,
como quem se orgulhou
ao dar um grande presente!

Mas ele não percebeu,
inadvertidamente,
que, ao sair, se esqueceu
de deixar o remetente

e agora eu fico aqui,
olhando pra a foto dela,
curioso em descobrir
quem será esta donzela.

E, sendo muito sincero,
não entendo esse destino;
pois já sinto que a quero
desde quando era menino!

Mas naquele bilhetinho,
que a bela me endereçou,
junto as juras de carinho
seu nome não assinou

e o passarinho correio,
que cruzou minha janela,
não me contou donde veio,
nem me disse quem é ela!

João Pessoa, 18/04/2010.

Consêi de amigo


Olhe, eu não sei não viu! Por ser poeta, já sou um fudido por natureza; aí ainda me vem um infeliz das canelas raspadas pra dizer que eu sou viado, porque não me atraco com tudo que é rameira que se chegue de sorriso arreganhado e pernas sem fechadura... olhe, eu não sei não viu!

Meu pai sempre me ensinou a não negar fogo a uma mata que esteja querendo ser queimada, mas ele me ensinou também a não confundir mata com mato!

Ainda mais agora que eu estou andando certinho, fazendo direito, tomando cuidado pra não esculhambar mais ainda minha imagem já avacalhada com o sexo oposto; pra um aprendiz de cabra safado desses querer falar merda e ensinar repentista a fazer rima.

E o pior... pior é que esse desconchavado já tem a mulher dele, moça muito valiosa e merecedora de respeito.

Pois vá seu infeliz... se atraque com tudo que é rascunho de mulher, das feições mal desenhadas e de beleza catrevaginosa. Pois tu não acha isso bonito? Então continue a fazer!

Mas arrepare mesmo:




Toda aranha tece a teia
Numa malha majestosa
Invisível, pegajosa
Que no vão do ar se alteia
E o zangão, macho da “abêia”,
Fora do seu território
Se engancha nesse envoltório
Tava atrás de mais riqueza
Ficou preso e virou presa
Dum destino triste inglório...

Faz “parêia” c’um zangão
O “caba” que tem mulher
E ainda assim ele quer
Viver na depravação
Fique atento cidadão
Qu’esse mundo é “chêi” de manha
Quem bate amanhã apanha
Te aquieta com tua “abêia”
Pra não se lascar na teia
Por conta de outra aranha!

João Pessoa, 18/04/2011.

sábado, 17 de abril de 2010

O que eu digo e o que ela diz



O qu’eu digo e o qu’ela diz
são dois tipos de verdades,
são duas realidades:
a que ela fez e a qu’eu fiz.
Na minha eu sou bem feliz,
na dela, ela está curada,
na minha ela estava errada,
na dela eu fui a escória
e é assim que nossa história
segue sendo repassada!

O que eu fiz e o qu’ela fez
é outra jurisdição,
que está aquém do perdão
perante todas as leis;
porém erramos os três
erramos eu, ela e nós
em soltarmos nossa voz
para falar mal da vida
que foi muito bem vivida
antes de ficarmos sós!

João Pessoa, 17/04/2010.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sujeito ruim de conquista!



Sentiu sua escala Richter
bater no mais alto nível
e sacudir no seu corpo
o que tinha de tremível;
foi algo incompreensível,
ele tremeu tal e qual
uma Toyota Rural
que segue desgovernada
numa estrada esburacada
no meio de um matagal

Tentou falar, mas falhou;
gaguejou, bateu o queixo,
seu maxilar travou,
a voz faltou por desleixo,
seu olhar saiu do eixo,
sua coragem correu,
sua pele embranqueceu,
sua orelha fervilhou,
a coluna se envergou
e o seu moral morreu...

Porém, já que estava ali
parado na frente dela
e não podia fugir
sem ter fama de gazela
abraçou-se na procela
e findou por se enforcar,
pois inventou de falar
essa seguinte lambança:
Moça, topa uma dança
ou quer ir logo bimbar?!

João Pessoa, 14/04/2010.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Receita de bolo pra encontrar Alma Gêmea



Cuspa na sua beleza,
engrosse sua fineza,
quebre a banca, vire a mesa,
não se preocupe com nada;
ignore quem te chama,
vista aquele seu pijama,
se jogue num rio de lama
e saia para noitada!

Seja guenzo ou baranga,
finja que tudo lhe zanga,
se for rir faça moganga,
desconjure a simpatia;
use um cinto de barbante,
não use desodorante,
e seja mais irritante
que aquela sua tia!

Agora espere que alguém,
que não seja assim também,
traceje lhe querer bem
e então podes mudar,
pois nosso Eu pra valer,
mesmo se a gente esconder,
o mundo pode não ver,
mas o amor vai enxergar!

João Pessoa, 13/04/2010.

domingo, 11 de abril de 2010

Na corda que ela me dá!



Sua carinha de anjo
engana muito marmanjo
sai causando desarranjo
em tudo que é coração,
o seu jeitinho de santa
conquista enquanto encanta
e não há quem se garanta
ao ver tamanha visão!

Mas seu jeito é um contra-senso
pois o seu olhar intenso
passa um pudor imenso
como a imensidão do mar,
mas su’alma é obscena
e o seu jeitinho serena
no seu libido se empena
e só pensa em fornicar!

Sua arte é obtusa
e deixa a mente confusa,
ela usa e abusa
assim que o dia se acorda
ou então só lança o charme
faz barulho, faz alarme
até que o outro desarme
e engula sua corda!

Notei isso logo assim
que ela sorriu pra mim,
na mesa do botequim
e se pois a me encarar;
porém eu sou mais atroz,
um astuto albatroz,
e vou dar diversos nós
na corda que ela me dá!

João Pessoa, 11/04/2010.

Desce desse pé, menino!



Lá do alto daquela goiabeira ele enxergava toda a extensão da rua e, extrapolando estes limites, observava também as vias circunvizinhas.

Lá, onde o menino gostava de ficar, o vento ainda não podia ser flagrado ao deflagrar uma nuvem de formato estranho e nem o portão da fábrica de nuvens podia ser vislumbrado; mas, segurando naqueles galhos que dançavam ao ritmo que a brisa imprimia a copa da árvore, o infante sentia-se como fosse parte do céu.

Chegava, às vezes, a quase soltar aqueles galhos tortos para se abraçar a um passarinho que revoasse por perto.

Mal gostava de goiabas, mas todo dia religiosamente subia naquele pé.

Ah! E como o menino gostava de ficar ali... Às vezes passava a tarde inteira, equilibrista vigoroso, só esperando que o sol se deitasse em sua cama (que ficava pra o lado da rua de baixo) enquanto a lua se acendia no centro do céu.

Porém os mais velhos não o entendiam e assim o censuravam. Quantas vezes sua avó, seus pais ou mesmo um vizinho não o reprimiu. Já o menino, na pureza de sua alma, pensava: “Como deve ser triste ficar velho e esquecer o quanto é bom subir num ‘pé de qualquer coisa’ bem alto pra sentir os ventos da liberdade chacoalharem tudo o quanto há de bom no peito da gente.”

****************
E deveras é muito triste sim! Cresci e há tempos que não subo num “pé de árvore”. Em algum momento da minha vida eu esqueci de me lembrar do quanto isso era bom.

Fiquei velho e, cada vez mais, meu espelho mostra algo parecido com meus pais...

Sinto saudades da minha molequice. Preciso sair na rua. Preciso subir numa árvore... alguém aí quer caju? Tomara que os galhos me agüentem. Volto já!


“Menino desce daí,
não vê qu’isso é arriscado;
desce pra tu não cair
e ficar todo empenado;
desce ligeiro senão
chamo teus pais e então
você vai ser castigado!”

Assim sua avó dizia
quando ao lhe procurar
trepado em cima de um pé
dava por lhe encontrar:
pé de manga, carambola
cajarana, graviola
pitomba, caju, cajá...

Mas subir num pé de fruta
pr’um coração de menino
é voar na catapulta
e, de Deus, tirar um fino;
é o auge da aventura
alcançar tamanha altura
mesmo sendo pequenino!

Mas sua avó não sabia,
ou talvez não se lembrava,
do torpor e a alegria
que estar lá encima dava
e por isso reprimia
o menino que subia
e de lá não se arredava!

Enquanto o moleque mouco
no cume daquela copa,
tendo a sensação de ver
até parte da Europa,
voava em seus pensamentos
vendo as nuvens e os ventos
batalhar com suas tropas!

João Pessoa, 11/04/2010.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Na mansão que a rosa vive



Não me dê tanto carinho;
não cuide tão bem de mim;
não me faça este charminho;
não fale baixinho assim;
não me lance estes sorrisos;
não me dê tantos motivos;
por favor, não me cative;
pois é certo minha queda,
que o espinho não se hospeda
na mansão que a rosa vive!

Seu olhar é fascinante,
seu sorriso me enfeitiça
e a sua voz ressoante
piora minha doidiça.
E se eu seguir te gostando
vou estar me aventurando
onde ninguém sobrevive,
vou pular sem pára-quedas,
que o espinho não se hospeda
na mansão que a rosa vive!

Mas acho que vale o pinho
tentar te fazer feliz;
pois, se hoje sou espinho,
ser flor um dia eu já quis
e eu vou me empenhar
pra o amor, de mim, gostar
e que assim me adjetive
em algo que te arremeda,
que o espinho não se hospeda
na mansão que a rosa vive!

João Pessoa, 06/04/2010
Mote de João Paraibano

Glosas de Jessé Costa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Teu Rosto



Tuas sardas são estrelas
fugidas do firmamento
que encontraram aposento
por entre tuas orelhas
e à sombra das sobrancelhas
mais lindas do universo
mora um olhar perverso,
perverso por ser tão belo;
e eu nessa visão congelo,
perco o verbo, perco o verso...

Teus olhos são duas luas
que alumiam tua face
e se o teu sorriso nasce
ilumina toda a rua;
tua tez espalha, nua,
o tom da tua emoção
e estas tuas sardas são
estrelas num céu de agosto
que desenham em teu rosto
a tua constelação!

João Pessoa, 02/04/2010.