terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Mote do Absurdo

(Mote de Zé Limeira, o poeta do absurdo)

Eu, caba homem, valente
E conhecido matador
Sei como imprimir a dor
No corpo de um vivente
Mas, meio que de repente,
Tua fulô sem espinho
Brotou bem no meu caminho
E como eu não sei amar
NO DIA QU’EU ME ZANGAR
MATO VOCÊ DE CARINHO!

Já dormi engaiolado
Por desacatar doutor,
Meter bala em senador,
Dar bufete em delegado;
Mas hoje tou enlaçado
Na vida de passarinho,
Ganhei parelha no ninho,
E nesse amor de lascar
NO DIA QU’EU ME ZANGAR
MATO VOCÊ DE CARINHO!

No meio desse escarcéu,
Minha fúria foi ferida
Por tua face bandida
Que me conduziu ao céu.
Tua beleza é cruel,
Pôs-me num redemoinho.
Mas sou forte, não definho
E sei como me vingar
NO DIA QU’EU ME ZANGAR
MATO VOCÊ DE CARINHO!

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 29/12/2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

Glosando a Saudade

(Mote de Ivanildo Vilanova e Zé Cardoso)

Hoje relembro um tempo passado
Pela janela chamada memória
- Como feliz foi a nossa história,
Como era bom ter você ao meu lado -
Ontem sonhei que tinha regressado
Pr’os áureos tempos da nossa amizade
Quando brotou o amor, na verdade
Nosso enlace era mais que evidente.
TENHA AMOR, QUEIRA BEM E FIQUE AUSENTE
PRA SABER QUANTO DÓI UMA SAUDADE

Naquela noite a lua luzia
A faiscar raios de luz divina
Na caboclice daquela menina
Musa brejeira dessa poesia
Mas, porventura, chegara o dia
De despedir-me da minha beldade
Tendo meu peito partido à metade
Desd’esse instante me encontro doente
TENHA AMOR, QUEIRA BEM E FIQUE AUSENTE
PRA SABER QUANTO DÓI UMA SAUDADE

Volta morena, vem para meus braços
Vem requentar esse meu sentimento
Trás teu feitio, essa forma de alento
Para as rimas que saem do meu traço
Pois sem você, de um ninguém, eu não passo
Corre o tempo e me vem à idade
Mas junto a ti volto à mocidade
Sinto que morte tem medo da gente
TENHA AMOR, QUEIRA BEM E FIQUE AUSENTE
PRA SABER QUANTO DÓI UMA SAUDADE

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 28/12/2008.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pêiada de Fim de Ano - 2008

O ano ficou tão velho
Que agora está morrendo
Mas pelo bucho do tempo
Vem outro ano nascendo
Carregado de esperança
Pr’o pai, pra mãe, pra criança
Pra todos que estão vivendo

Se dois mil e oito foi
Um ano de eleição
Que o novo ano venha
Sem voto pr’esses ladrão
Sem toró na Catarina
E que só chova menina
No colo desse cristão!

Se no ano moribundo
Não acertei de primeira
Se perdi minha burrinha
Com a crise financeira
Nesse ano que se apruma
Vou erguer uma fortuna
Investindo em brincadeira!

Se nesse ano morrente
No cordel comprei ingresso
No ano subseqüente
Lapidarei o meu verso
Vou escrever tão bonito
Que vou me tornar um mito
Na terra pr’onde regresso!

Autor: Jessé Costa.
Timbaúba, 26/12/2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Flor da Pele

No meio de tantas rosas,
No roseiral mais bonito,
A borboleta mais bela
Flutua sobre o infinito
E de repente detecta
O cheiro doce do néctar,
Que seus anseios repele,
E dando beijos devora
Todo o amor que aflora
Dos poros da flor da pele!

Jessé Costa

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Arrendamento



O vento que te assanha
Vem e me acaricia
Aliviando a sanha
De não te ver neste dia
E quando em brisa se amansa
Derrama em mim a lembrança
Dos traços do teu sorriso
Do teu olhar penetrante
E do teu cheiro marcante
Que me acalanta o juízo

E eu te arrendei o meu peito
Lucrando em felicidade
Mas cuide dele direito
Já que plantaste saudade
Pois essa monocultura
Mata o solo em que apura
Se não for sempre regada
Com a água dos desejos
E adubada com beijos
Da lavradora amada!

(Jessé Costa)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Teu Frevo e Minha Capoeira

Pía mesmo pra Baiana
Que baixou no meu pensar
Feito lapada de cana
Fez meu gogó se amarrar
E eu lá de Pernambuco
Penso que fiquei maluco
Pois vejo meu caboclinho
Se jogar na capoeira
Dessa morena matreira
Que vem lá do pelourinho

E o terreiro do meu peito
Recebeu seu candomblé
Num sincretismo imperfeito
De divindades qualquer
Mas nem santo ou orixá
Não tem forças pra’rranhar
Andor tão diamantado
Que mistura a alegria
Da cultura da Bahia
Com um frevo apaixonado!


(Jessé Costa)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Prelúdio de um fim

Seus versos já não têm graça
As rimas estão morrendo
E seu cordel em desgraça
Aos poucos esmorecendo
Pois o amor com seu bote
Matou qualquer outro mote
Que ele andava escrevendo

(Jessé Costa)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Restituição

Pr’eu ter respeito do seu pai, do seu avô,
Devia ter ao menos fama de bom moço!
Por paquerar a princesinha linda flor
É bem capaz d’eu ir dormir no calabouço

E é mais fácil até ganhar na mega-sena,
Mesmo comprando o bilhete no fiado,
Ou andar nu com as coisas à vista plena
Sem ter ninguém pra me chamar de transviado!

Mas o que faço para ser levado a serio?
Ou pra você me acalentar em sua casa...
Me diga agora, porque todo esse mistério?
Se não me quer então porque vem me dar asa?


(Jessé Costa)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O Feitio de Carolina

Tengo-tengo-lengo-tengo
Palpitou meu coração
Quando te vi no salão
(Que é essa nossa vida)
Dançando descontraída,
De sorrisos sedutores,
Um forró cheio de cores
De sabores e desejo
Que me fez num só lampejo
Derreter-me em amores

Ai ai ai ai ai ai ai
Qu’essa dor eu desconheço
Não foi queda, nem tropeço
E vem de dentro pra fora
Sai do peito e vai embora
Na forma de calafrio
Deixando cá um vazio
Que dói a todo o momento
Mas tem o medicamento
Nos traços do teu feitio!

(Jessé Costa)