sábado, 26 de julho de 2008

Num Aceno e até Já

Vim aqui me despedir
Num aceno e até já
Daqueles que por aqui
Vinham me prestigiar
Tou parando de escrever
Pr’outras coisas aprender
E na vida me aprumar

Dedicado à engenharia
Ficarei longe do fundo
Do poço e da mixaria
De um rumo sujismundo
E levo na minha rima
A lição que mais se estima:
Cada cabeça é um mundo!


Vou garantir meu futuro
Sem engrenagem virar
E assintoticamente
Vou deixar de escrevinhar
Lhes deixando abraços meus,
Não em forma de adeus
Pois um dia hei de voltar!

(Jessé Costa)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Devaneio Beijoso

Primeira vez no beijar
De uma moça prendada
Carrega o fantasiar
De uma áurea encantada
Mas quando vem salivado
Cheio de baba e molhado
Só desilude a coitada

Mas se o beijo é bem dado
Faz despertar a paixão
Derruba fácil a muralha
Que cerca o coração
E se quem dá o danado
For um sujeito safado
Precede fornicação

Pois beijo bom é esse
Que deixa a mente louca
Que faz se enrijecesse
A língua ao céu da boca
E começando inocente
Quase displicentemente
Se endoidece a cabocla

(Jessé Costa)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Prometório Eleitoreiro

Se eleito eu lhes prometo
Que proibirei que gansos
Dêem carreiras em meninos
Buxudos cheios de ranço
Eu prometo o fim da fome
Dez mulher pra cada hômi
E todos cornos amanso


Se eleito eu lhes prometo
Deixar pra trás a mania
De roubar o que é dos pobres
Pra só lhes dar alegria
Prometo prender bandidos
Menos os meus conhecidos
Pois senão me prenderia


Se eleito eu lhes prometo
Que ninguém mais se azucrina
Prometo muita fartura
Riqueza que não termina
Prometo por prometer
Pois quando me eleger
Lhes fôdo sem vaselina

(Jessé Costa)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Fiel Respiradouro

Minha estrada é oblíqua e é estreita
Ladeada de espinhentas laranjeiras
E forrada por uma fina poeira
Dos prazeres que o coração deleita.
A seguindo vou mantendo a espreita
Dos espinhos o meu singular tesouro
Que é de cobre, é de prata, é de ouro
E moldado pelas mãos do pai divino.
Tenho dentro do peito um eu menino
Da alegria, fiel respiradouro!

(Jessé Costa)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Aposta


Certa vez num rala-bucho
Tava eu mais Zé Mané
Procurando uma pareia
Pra dançar arrasta pé
E fizemu um apostado
De se rebolar pelado
Quem não pegasse mulé

.

Mais confiante que cego
Travessando avenida
Chamei pro mêi do terreiro
Uma madama metida
Mas levei um ré tão feio
Que botei o pé no freio
E virei pras raparigas

.

Tinha Odete, Penha e Têca
Profissionais de primeira
Mas que só de chegar perto
Já transmitiam coceira
E num lado escanteada
A recém iniciada
Maricleide Gemedeira

.

Olhei pr’um lado, pro outro
Zé Mané não avistei
Refleti comigo mesmo
“Essa aposta vencerei!”
E chegando em Maricleide
Disse: "-Minha bela Leide
Deixe ser seu grande rei!"

.

Gemedeira olhou pra eu
De sorriso abestalhado
E assim me respondeu:
"-São Dez reais o reinado
Mas como gostei d’ocê
Vamu ali qu’eu vou fazê
Algo para o seu agrado."

.

Me puxou pela munheca
Para o meio do salão
E nos foles do forró
Foi aquela confusão
Dois pra lá e dois pra cá
Colado sem desgrudá
Na quentura do baião!

.

Comecei a fervilhar
Com aquele esfregado
E nas oiças da morena
Sussurrei cafajestado:
"-O que sentes cutucar
Não é o meu celular
É o Junior empolgado!"

.

Maricleide me olhando
Com um sorriso de quenga
Disse: “-Gostei de você
Sujeito sem lenga-lenga
Agora vamos simbora
Que eu já não vejo à hora
Qu’essa noite se estenda."

.

Daí, fui com a morena
Pra meu sítio bacurau
E passamu a noite inteira
Namorando num curral
Numa pujança tamanha
Que Maricleide risonha
Não cobrou um só real.

.

Depois eu fiquei sabendo
Que Zé tava encarcerado
Pois foi pego no forró
Dançando todo pelado
Eita cabra sem critério
Levou a aposta a serio
E dormiu engaiolado!

.

João Pessoa, 09/07/2008.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Problemas Reto-Furiculares

Nas reuniões de gente
Onde tem conglomerados
Um sujeito bom de olho
Tira de primeiro olhado
Em duas situações
As seguintes conclusões
Pelo motivo explicado


Quando você vê um cabra
Andando de cú trancado
Com as pernas ajuntadas
Feito pato apressado
É porque o seu furico
Ou tá com barro no bico
Ou teve o lacre rasgado


Agora se ele vem
De andar arreganhado
Marcando quatro e quarenta
Do relógio, o ponteirado
É porque o pobrezinho
Ou já se cagou todinho
Ou tá de furico assado

(Jessé Costa)

domingo, 6 de julho de 2008

Viver

Viver
É possuir dentro do peito uma meta
Como sair pra passear de bicicleta
Quando começa não se pode mais parar
Senão no chão você vai se estabacar

Viver
Só por viver não vai te induzir a nada
Pois toda vida já veio predestinada
Só existir vai te tornar um Zé ninguém
E um cachorro já faz isso muito bem

Viver
É ter amor e no olhar um forte brilho
Sonhar com carros, com mulher e um belo filho
Querer ser rico e morar na beira mar
Na maresia e sem ninguém pra estressar

Viver
É ter motivos pra enfrentar um duro dia
Ver nas buzinas uma soar de melodia
Dar um sorriso quando alguém estira o dedo
Atravessar a avenida sem ter medo

Viver
É dar bom dia ao cobrador mal humorado
Respirar fundo quando for prejudicado
Acreditar que a honestidade é soberana
E trabalhar pra ter no banco uma grana

Viver
É escrever sua epopéia biográfica
Fazer poemas sobre o branco da afta
É ver a vida humilhar seu coração
E noutro dia lhe escrever uma canção

Viver
É simplesmente ver raiar outra aurora
Num feriado amanhecer com catapora
Ver gente linda e feliz num outdoor
E sentir dor sem ter ninguém pra sentir dó.


João Pessoa, 6 de julho de 2008


sábado, 5 de julho de 2008

A querença do Sol mais a Lua

A Lua alumia a noite
Com muita propriedade,
Alimenta o lusco-fusco
Cintilando a claridade;
Mas a lua se sozinha
Sem o Sol pela cozinha
Não brilhava de verdade!

Pois o Sol, astro maior
Pela Lua apaixonado
Vendo seu corpo celeste
Fica todo atrapalhado
E pra lhe dar alegria
Faz assim à noite e o dia
Dividindo seu reinado!

É o Sol que a luz empresta
Pra sua amada senhora
Caiar o breu do escuro
Da noitinha à aurora
E a Lua exibida
Reflete a luz recebida
Enquanto o Sol a namora!

João Pessoa, 05/07/2008.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Bloco dos Apaixonados



Tu estavas inda ontem na aresta
Que ladeia os lados do meu coração
Entre as bandas que divide da razão
A paixão, o pedacinho que lhe resta
Por motivos que o juízo não contesta
Tu caíste para o lado do amor
E meu peito que chorava um tango em dor
Fervilhou com o teu frevo sanfonado
E hoje canta, pula e dança embriagado
Consagrado, do teu bloco, o puxador!

João Pessoa 04/07/2008

Merecia um Pau!

Deu a bilora foi fía?
A gente mal se conhece
E tu vens com essa onda
Mas nem com toda pitomba
Eu caio na tua prece
Que fiel muito devoto
Tem pecado légua e meia
Que padre faz cara feia
E se nega a dar perdão


Mas nessa não caio não
Logo eu tu quer pegar?
Pois trate de procurar
Outro Zé Mané tapado
Que esse já foi criado
E nem nele mais confia


Quanto mais numa Maria
Bonita e inteligente
Que desaba em sua frente
Dizendo na flor do dia
“Affe hômi que quentura
Porque nós não se mistura
E esse fogo esfria”


(Depois de escutar isso Maria foi e deu pra outro. Já Zé? Continua tomando banhos demorosos)

(Jessé Costa)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Menino

Da infância eu lembro à quimera
Daqueles questionários de mocinha
Que quase toda menininha tinha
Só pra investigar o seu paquera
Lembro bem do caderno como era
Lá só cinco garotos respondiam
Dependendo do que escreveriam
Era ai que a menina apaixonava
E a todas amigas segredava
Doida pra ver como reagiriam


Onde é você me beijaria?
Na bochecha, na boca ou na testa?
Er’assim, uma pergunta era esta
E daí muito se extrairia
Mas pra nós isso era lesaria
Pois pirralho só pensa em bater bola
Ser o bom, maior o craque da escola
Dentre todos, o grande campeão
E num restava tempo pra paixão
Nem flertar com amigo de calçola


Pois menino não sabe como é bom
Ter nos braços do homem a mulher
Um menino nem sabe o que quer
Jovem fruta verdosa a meio tom
Ainda desconhece o belo som
Do gemido suave, melindroso
Do sussurro que beira ser um gozo
Desconhece o poder que a fêmea tem
O menino que jura ser alguém
Inda é um rabisco mal-formoso

(Jessé Costa)