sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A querença do Mar pela Terra



Caminhando à beira-mar
Perguntei ao Céu nublado
Por que vez por outra o Mar
Amanhece ressacado
Querendo a Terra tomar
Meio que desesperado

Pois, com um riso de lado,
O Céu pôs-se a me contar
Que o Mar assim faz guerra
Quando um Vento vem de lá
Beijar a face da Terra
E com ela namorar

E mais em particular
Fez-me o confidenciado
Que o Mar é totalmente
Pela Terra apaixonado
Porém não possui altura
Para tê-la em seu reinado

Mas sempre que um Vento vai
Todo alísio e ateado
Beijar a face da Terra
O Mar logo ali ao lado
Bebe todas, enche a cara
E acorda ressacado!

Timbaúba, 30/12/2010.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Meu verso & a força da mata-norte



Meu verso tem a pujança
Do mais forte burro-mulo
Tem a leveza do pulo
E a beleza da dança
De um caboclo de lança
Defendendo o seu reisado
O meu verso é compassado
No baque do caboclinho
E tal cavalo marinho
O meu verso é encantado!

Meu verso tem o sabor
Que tem o caldo da cana
É doce se for caiana
E é aguado se não for
É verso de cantador
Mas não do que faz repente
É um verso diferente
Rimado em maracatu
Verso de mestre Salu
Nosso maior expoente!

É um verso com a trama
Das redes de Timbaúba
É verso que não derruba
Nem ofende, nem faz drama
Apenasmente exclama
Pra que o Brasil repense
Pois meu povo é quem mais vence
E merece mais estande.
Ah, se meu verso for grande
É por ser mata-nortense!

Que sendo desse torrão
Ele tem razão de ser
Pois nasce do massapê
E mal saindo do chão
Corre em meio à plantação
Passa um tempo no curral
Comendo capim com sal
Ganha peso, fica forte
S’enleva na mata-norte
E vira um canavial!
.
Um canavial verdinho
Que de tempos é queimado
Fazendo qu'esse versado
Se transforme em malunguinho
Que voa sem ter caminho
Que no vento se levita
E longe se precipita
Desenhando onde cai
Toda beleza que "hai"
Nessa mata tão bonita!

Timbaúba, 27/12/2010.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Duas oitavas de despedida



Vai meu bem, sem falsidade
Vai matar tua saudade
Volta pra tua cidade
Fica o tempo que quiser
Vai com toda liberdade
Pra tua realidade
Que eu congelo a vontade
De te ter como mulher!

E se Deus, o pai clemente,
Fez nós dois pra ser “a gente”,
Inadvertidamente
Lembrarás de mim às vezes
E um sorriso insistente
Vai descer da tua mente
Como quem diz: se agüente,
Afinal, são poucos meses!

João Pessoa, 16/12/2010.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Matuto medroso apaixonado, o Doutor da medicina e o Poeta matador de amor

CENA I: No consultório médico


- Seu Doutor, minha querela
É difícil de explicar
Só sei que me falta o ar
Quando na presença dela
Ou então s’eu penso nela
Na minha imaginação
Vije Maria, sei não
O que é isso Doutor?
- É, só pode ser amor
Isso no seu coração!

- Vije, me lasquei então
E o que é qu'eu faço Doutor
Pra tirar o tal amor
Daqui do meu coração?
- Homi, disso eu não sei não
Pois não é a medicina
Que vai curar essa sina
Desse amor que lhe afeta
Porém pergunte a um poeta
Que ele sim te ensina!


CENA II: No bar com um poeta



- Seu poeta, gente fina,
Só tu podes me salvar
O caso é que dei pra amar
A uma linda menina
Mas eu não quero essa sina
Pois tenho medo, senhor,
Que amor anda co’a dor
E dor só machuca a gente
Por isso me oriente
Pr’eu me livrar desse amor

- Meu amigo sofredor,
Matar um amor é fácil
Tu só tens que ir ao Lácio
E procurar pela flor
Que seja preta de cor;
E assim que a encontrar
Faça um chá, deixe esfriar
E tome num gole só
Que então desfaz-se o nó
E tu deixas de amar!

- Vije! É, deixa pra lá...
Que viagem da mulesta
Não tem forma mais modesta
Pra se deixar de amar?
- Tem outra qu’é se matar
Mas essa né tão correta
Tem também a outra seta
Que foi o que me ocorreu
O meu amor só morreu
Quando dei pra ser poeta!

Pegue o amor que te afeta
Sacuda ele no chão,
Faça dele inspiração
Pra qualquer coisa concreta
Invente de ser poeta,
Seresteiro ou pintor
Só não deixe esse tumor
Inchar no seu coração;
Porque senão, cidadão,
É tu que morre de amor!

João Pessoa, 08/12/2010.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ode a saudade

Mote do poeta Luiz Homero:

"Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!"



Ao destino de ser só,
Saudade é força contrária;
Numa artéria coronária
A saudade é feito um nó!
Quando lembro de vovó
Saudade é dor que trucida,
Mas justo ela valida
Que vovó era amada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

Tudo aquilo que é bom
Quando um dia chega ao fim
Logo de cara é tão ruim
Mas depois muda seu tom.
Recuperar-se é um dom,
Lembrar sem dor é partida;
Nossa vida só tem ida,
Saudade é a ré quebrada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

Saudade das brincadeiras,
Da meninada na rua,
De ver a vizinha nua
De cima das goiabeiras,
Que saudade das carreiras
E a pipa mal construída
Que até dava subida,
Mas nunca foi batizada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

Sem ter medo dos tormentos,
De saudade eu me equipo;
Modelos de todo tipo
Guardo nos meus pensamentos.
Pra infinitos momentos
Uma saudade é erguida,
Desde a cidade querida
E até da ex-namorada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

João Pessoa, 06/12/2010.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A beleza feminina

Mote sugerido pelo poeta Cícero Moraes:

"Quem é que não admira
A beleza feminina!"



Deus juntou toda beleza
Que ia botar no mundo
Parou, pensou um segundo,
E fez a maior proeza!
Virou tudo sobre a mesa
E com a arte divina
Fez sua obra mais fina:
A mulher, linda safira!
Quem é que não admira
A beleza feminina!

Até mesmo um viado
(E falo sem preconceito)
Quer ter, da mulher, o jeito
Pra ficar afeminado.
E tome rosto pintado,
Um salto que a bunda empina
E calça cintura fina
Com um top só a tira
Quem é que não admira
A beleza feminina!

Mesmo eu muito me pego
Parado, leso, bestando
Pra uma mulher olhando
(E olho mesmo, não nego!)
Eu nunca que vou ser cego
Pois toda tarde, a surdina,
Vou limpar minha retina
Na praça vou fazer mira
Quem é que não admira
A beleza feminina!

A mulher é tão bonita
Que até os olhos dela
Ficam lindos com remela
Ao olhar de quem lhes fita.
Mulher não anda, levita;
Mulher não é, se destina;
Mulher não passa, alucina;
Mulher não pede, ela inspira;
Quem é que não admira
A beleza feminina!

Timbaúba, 04/12/2010.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lua, sol e arrebol



Meu coração é a lua
Que cercada de estrelas
Rejeita uma por uma;
(Todas tem, mas não quer tê-las!)
Tem essa riqueza enorme
Mas nem liga em perdê-las.

Meu coração é a lua
Que tem raiva do pernoite,
Pois tem o céu só pra si
Mas amargura o açoite
De, o sol, não ter consigo
Juntinho dela de noite!

E você, meu lato amor,
É justamente esse sol
Que vive me dando luz,
Muito mais que um farol,
Mas que quando chego perto
Se esquiva no arrebol!

João Pessoa, 01/12/2010.