sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A querença do Mar pela Terra



Caminhando à beira-mar
Perguntei ao Céu nublado
Por que vez por outra o Mar
Amanhece ressacado
Querendo a Terra tomar
Meio que desesperado

Pois, com um riso de lado,
O Céu pôs-se a me contar
Que o Mar assim faz guerra
Quando um Vento vem de lá
Beijar a face da Terra
E com ela namorar

E mais em particular
Fez-me o confidenciado
Que o Mar é totalmente
Pela Terra apaixonado
Porém não possui altura
Para tê-la em seu reinado

Mas sempre que um Vento vai
Todo alísio e ateado
Beijar a face da Terra
O Mar logo ali ao lado
Bebe todas, enche a cara
E acorda ressacado!

Timbaúba, 30/12/2010.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Meu verso & a força da mata-norte



Meu verso tem a pujança
Do mais forte burro-mulo
Tem a leveza do pulo
E a beleza da dança
De um caboclo de lança
Defendendo o seu reisado
O meu verso é compassado
No baque do caboclinho
E tal cavalo marinho
O meu verso é encantado!

Meu verso tem o sabor
Que tem o caldo da cana
É doce se for caiana
E é aguado se não for
É verso de cantador
Mas não do que faz repente
É um verso diferente
Rimado em maracatu
Verso de mestre Salu
Nosso maior expoente!

É um verso com a trama
Das redes de Timbaúba
É verso que não derruba
Nem ofende, nem faz drama
Apenasmente exclama
Pra que o Brasil repense
Pois meu povo é quem mais vence
E merece mais estande.
Ah, se meu verso for grande
É por ser mata-nortense!

Que sendo desse torrão
Ele tem razão de ser
Pois nasce do massapê
E mal saindo do chão
Corre em meio à plantação
Passa um tempo no curral
Comendo capim com sal
Ganha peso, fica forte
S’enleva na mata-norte
E vira um canavial!
.
Um canavial verdinho
Que de tempos é queimado
Fazendo qu'esse versado
Se transforme em malunguinho
Que voa sem ter caminho
Que no vento se levita
E longe se precipita
Desenhando onde cai
Toda beleza que "hai"
Nessa mata tão bonita!

Timbaúba, 27/12/2010.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Duas oitavas de despedida



Vai meu bem, sem falsidade
Vai matar tua saudade
Volta pra tua cidade
Fica o tempo que quiser
Vai com toda liberdade
Pra tua realidade
Que eu congelo a vontade
De te ter como mulher!

E se Deus, o pai clemente,
Fez nós dois pra ser “a gente”,
Inadvertidamente
Lembrarás de mim às vezes
E um sorriso insistente
Vai descer da tua mente
Como quem diz: se agüente,
Afinal, são poucos meses!

João Pessoa, 16/12/2010.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Matuto medroso apaixonado, o Doutor da medicina e o Poeta matador de amor

CENA I: No consultório médico


- Seu Doutor, minha querela
É difícil de explicar
Só sei que me falta o ar
Quando na presença dela
Ou então s’eu penso nela
Na minha imaginação
Vije Maria, sei não
O que é isso Doutor?
- É, só pode ser amor
Isso no seu coração!

- Vije, me lasquei então
E o que é qu'eu faço Doutor
Pra tirar o tal amor
Daqui do meu coração?
- Homi, disso eu não sei não
Pois não é a medicina
Que vai curar essa sina
Desse amor que lhe afeta
Porém pergunte a um poeta
Que ele sim te ensina!


CENA II: No bar com um poeta



- Seu poeta, gente fina,
Só tu podes me salvar
O caso é que dei pra amar
A uma linda menina
Mas eu não quero essa sina
Pois tenho medo, senhor,
Que amor anda co’a dor
E dor só machuca a gente
Por isso me oriente
Pr’eu me livrar desse amor

- Meu amigo sofredor,
Matar um amor é fácil
Tu só tens que ir ao Lácio
E procurar pela flor
Que seja preta de cor;
E assim que a encontrar
Faça um chá, deixe esfriar
E tome num gole só
Que então desfaz-se o nó
E tu deixas de amar!

- Vije! É, deixa pra lá...
Que viagem da mulesta
Não tem forma mais modesta
Pra se deixar de amar?
- Tem outra qu’é se matar
Mas essa né tão correta
Tem também a outra seta
Que foi o que me ocorreu
O meu amor só morreu
Quando dei pra ser poeta!

Pegue o amor que te afeta
Sacuda ele no chão,
Faça dele inspiração
Pra qualquer coisa concreta
Invente de ser poeta,
Seresteiro ou pintor
Só não deixe esse tumor
Inchar no seu coração;
Porque senão, cidadão,
É tu que morre de amor!

João Pessoa, 08/12/2010.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ode a saudade

Mote do poeta Luiz Homero:

"Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!"



Ao destino de ser só,
Saudade é força contrária;
Numa artéria coronária
A saudade é feito um nó!
Quando lembro de vovó
Saudade é dor que trucida,
Mas justo ela valida
Que vovó era amada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

Tudo aquilo que é bom
Quando um dia chega ao fim
Logo de cara é tão ruim
Mas depois muda seu tom.
Recuperar-se é um dom,
Lembrar sem dor é partida;
Nossa vida só tem ida,
Saudade é a ré quebrada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

Saudade das brincadeiras,
Da meninada na rua,
De ver a vizinha nua
De cima das goiabeiras,
Que saudade das carreiras
E a pipa mal construída
Que até dava subida,
Mas nunca foi batizada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

Sem ter medo dos tormentos,
De saudade eu me equipo;
Modelos de todo tipo
Guardo nos meus pensamentos.
Pra infinitos momentos
Uma saudade é erguida,
Desde a cidade querida
E até da ex-namorada
Não ter saudade de nada
É não ter nada na vida!

João Pessoa, 06/12/2010.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A beleza feminina

Mote sugerido pelo poeta Cícero Moraes:

"Quem é que não admira
A beleza feminina!"



Deus juntou toda beleza
Que ia botar no mundo
Parou, pensou um segundo,
E fez a maior proeza!
Virou tudo sobre a mesa
E com a arte divina
Fez sua obra mais fina:
A mulher, linda safira!
Quem é que não admira
A beleza feminina!

Até mesmo um viado
(E falo sem preconceito)
Quer ter, da mulher, o jeito
Pra ficar afeminado.
E tome rosto pintado,
Um salto que a bunda empina
E calça cintura fina
Com um top só a tira
Quem é que não admira
A beleza feminina!

Mesmo eu muito me pego
Parado, leso, bestando
Pra uma mulher olhando
(E olho mesmo, não nego!)
Eu nunca que vou ser cego
Pois toda tarde, a surdina,
Vou limpar minha retina
Na praça vou fazer mira
Quem é que não admira
A beleza feminina!

A mulher é tão bonita
Que até os olhos dela
Ficam lindos com remela
Ao olhar de quem lhes fita.
Mulher não anda, levita;
Mulher não é, se destina;
Mulher não passa, alucina;
Mulher não pede, ela inspira;
Quem é que não admira
A beleza feminina!

Timbaúba, 04/12/2010.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lua, sol e arrebol



Meu coração é a lua
Que cercada de estrelas
Rejeita uma por uma;
(Todas tem, mas não quer tê-las!)
Tem essa riqueza enorme
Mas nem liga em perdê-las.

Meu coração é a lua
Que tem raiva do pernoite,
Pois tem o céu só pra si
Mas amargura o açoite
De, o sol, não ter consigo
Juntinho dela de noite!

E você, meu lato amor,
É justamente esse sol
Que vive me dando luz,
Muito mais que um farol,
Mas que quando chego perto
Se esquiva no arrebol!

João Pessoa, 01/12/2010.

domingo, 28 de novembro de 2010

Estrela de Tuparetama

A poetisa Mariana Teles, natural de Tuparetama-PE, é um daqueles seres encantados dos quais seria um disparate chamar de ser humano. Costumo dizer que quando essa menina-moça-senhorita-poetisa (a mulesta toda!) escreve, escreve montada em cima duma nuvem; e é de lá, balançando seus pés na vastidão do céu, que essa danada fica observando a gente, o bicho-incompleto-homem, e esse mundinho onde vivemos, pra assim escrever suas poesias.

Ler uma poesia dessa poetisa ainda tão jovem e já tão grande nos leva impreterivelmente ao mundo da admiração. E sendo eu um grande admirador dessa moça, inventei de escrever um soneto pra lhe homenagear, no qual disse:
.
.
Quando o barro rachado vira lama
No chover duma nuvem bem chuvosa
E a água correndo caudalosa
Vai pintando de verde a cinza rama;

Quando o escuro da noite se derrama
E a lua o enfrenta, corajosa;
Quando o cheiro do mato cheira à glosa
E o vento ventando lhe declama;

Essa moça observa atentamente
E rimando compõe outro presente
Pra quem gosta de boa poesia.

Quando escreve ela faz-se transcender
E quem lê não escapa de dizer:
“Deu a gota!”, “Que lindo!”, “Ave-Maria!”

João Pessoa, 24/11/2010.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tal e qual um Pardal

O poeta Vinícius Gregório, que reside no Recife (onde estuda) mas é natural da cidade de São José do Egito-PE, compôs um soneto da mulesta intitulado "Eu e o Galo-de-Campina", o qual ele arrematou dizendo: O meu canto é um canto de lamento. / A gaiola é o o meu apartamento. / E a saudade que sinto é do sertão. E foi justamente parafraseando esse fantástico soneto que rabisquei os versos abaixo:


Tal e qual um Pardal



Que saudade me dá de Timbaúba
Da caiana, a colheita, o malunguinho;
Da cultura que o tempo não derruba;
Do reisado, do boi e caboclinho.

Como é grande a saudade que me encerra;
Do meu mato, meu céu, do meu cantinho.
Tanto tempo distante a minha terra;
Tou morrendo, meu Deus, devagarzinho!

Sem sertão, se Vinícius se destina
A sofrer tal qual Galo-de-Campina,
Eu sou mesmo que ver a um Pardal

Que definha cativo à beira-morte,
Tando longe do ar da Mata Norte
Preso num alçapão na capital!

João Pessoa, 23/11/2010.

domingo, 21 de novembro de 2010

O matuto e Dadá



O matuto, mas matuto daqueles matutos mesmo, tá parado no meio do salão mais agoniado do que cachorro quando quer obrar... Querendo se declarar entorna três quartinhos de cana de cabeça e se atrepa no primeiro toco que acha no meio do salão. Alevanta os braços, se balança no centróide corpóreo e, dando duas tapas no peito pra chamar a atenção do povo, se desemboca a bradar:

- Quando é chegado o tempo
A gente acorda a contento
Como que o coração
Tivesse o pressentimento
De que chegou o instante
De abandonar o lamento

Quando se chega o momento
A tristeza não vigora
E sobre o velho jardim
Um novo jardim aflora
À luz do dia mais belo
Na cor da mais bela aurora!

Pois quando se abate a hora
A gente sente no ar
E de repente o espelho
Reflete no nosso olhar
Um brilho que só existe
Em quem vai se apaixonar!

Por isso pude notar
Que chegou a minha vez
Pois depois que vi Dadá
Esbanjando polidez
Meu olhar cintilou tanto
Que a noite se desfez!

Que ao me olhar Dadá fez
Com que eu me superasse
E da cova do sofrer
Sorrindo eu me levantasse
Foi Dadá que imprimiu
Esse riso em minha face!

E sem ter o que disfarce
Todo bem qu’ela me dá
Eu inventei esta graça
Pra declarar pra Dadá
Que mulher igual a ela
Nesse planeta não há!

Chegue Dadá, vem pra cá
Vem ficar juntinho d'eu
Vem pra fazer companhia
A esse jeitinho teu
Que já fincou moradia
Cá dentro do peito meu!

João Pessoa, 21/11/2010.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sentimento ambientalista



Só vejo desmatamento
Nas florestas do amor
Hoje em dia é só furor
Ninguém quer mais sentimento
Mas eu sou dos 1 por cento
Que ainda quer amar
E amor reflorestar
Por isso que amanhã
Vou plantar um flamboyant
Pra meu bem se balançar

Eu viro ambientalista
Eu replanto a Amazônia
Depois fundo uma colônia
Com o nome dela a vista
E logo depois na lista
Da colônia batizar
Para o dia embelezar
De frente ao nosso mocambo
Vou plantar um pé de jambo
Pra meu bem se balançar

E se meu bem não quiser
Balançar no flamboyant
Ou no jambo, eu com tupã
Arrumo um trato qualquer
Pra que ele finque pé
De muita chuva mandar
E então fincando a pá
Perto duma cachoeira
Vou plantar uma mangueira
Pra meu bem se balançar

E s'ainda nem assim
O meu bem não "me querer"
Eu boto pra endoidecer
Dano nas plantas cupim
Depois queimo meu jardim
Planto capim no pomar
Armo um circo no lugar
E na atração primeira
Eu vou plantar bananeira
Pra meu bem se balançar!

João Pessoa, 17/11/2010.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pra quando for trocado



Arrazoar quem perdeu
Não é a forma correta
Tem mulher que não nasceu
Pra ser musa de poeta
E consegue de verdade
Encontrar felicidade
Com um riquinho pateta!

Por isso, pra que ter meta?
Ninguém ganhou ou perdeu
Nós ficamos no empate
Tu com o teu Zebedeu
Com o seu carrão bolado
E eu desacompanhado
Só eu e meu pobre eu!

Pobre porque concebeu
Uma musa tão pequena
E que displicentemente
Deixou-te estrelar a cena
Pobre por ter apostado
Numa jogada de dado
Que você valia a pena!

Mas antes duma quinzena
Posso te assegurar
Eu terei uma centena
De musas pra seu lugar
E você, meu Deus do céu,
Não terá mais meu corcel
Pra de noite passear!

E se aí você ficar
Triste com seu namorado
Mesmo que dando voltinha
Num Lamborghini importado
É tarde, minha querida,
E nunca mais nessa vida
Você me terá ao lado!

João Pessoa, 15/11/2010.

sábado, 13 de novembro de 2010

Mote bom da mulesta II

Mote sugerido pelo Poeta Cícero Belmonte, um malassombrado de primeira apanha que já tem seu lugar assegurado entre os grandes vates do sertão:

“Nada quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!”



Meu Concriz, meu Amor, minha Paixão
Não s’acanhe com que o povo fala
Nada disso me atinge ou me abala
Nem faz sombra de ser desilusão
Pois contigo aqui no coração
Ah meu anjo, meu juízo me diz:
- Ela é tudo que a gente sempre quis,
Então corra e dê-lhe esse recado:
Nada quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!

O que foi já passou, ficou pra trás
Já perdeu seu valor, já não tem mérito
Tanto que se tornou então pretérito
E no fio da memória se desfaz
Não me importa o que fostes lá atrás
Se passastes tirando um fino, um triz
De na zona tornar-se meretriz
Pois pra mim isso é fato superado
Nada quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!

O que sinto por ti não tem medida
E não há nenhum mal adjetivo
Ou má fama que beire ser motivo
Pra que essa paixão seja ferida
Eu só quero saber da tua vida
A partir de agora, meu Concriz,
E se o povo insistir em ser Juiz
Eu na tapa me faço advogado
Pois não quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!

Glosas: Jessé Costa
João Pessoa, 12/11/2010.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Acercando sobre fé



Nessa vastidão de mundo
O que me vem a ser fé
É acreditar que a vida
Vale tanto quanto é
Mesmo com tanto porém
Nas notas de rodapé

É creditar na verdade
Acreditando bem muito
Que se eu juntar vontade
Formando um grande conjunto
E gritar: - Felicidade!
A danada vem pra junto…

E confiar lesamente
Com toda convicção
Apostando os batimentos
Que movem meu coração
Que se eu cair de cara
Vem alguém e dá-me a mão!

O que me vem a ser fé
É esse negócio bom
Que explica o impossível
Sem balbuciar um som
Por isso qu’eu digo: - Fé,
Isso sim é um grande dom!

UFPB, 08/11/2010.

sábado, 6 de novembro de 2010

No cabaré das Formigas



Maria gritou: - José,
Acode aqui no quintal
Que isso só pode ser
Outra guerra mundial!

- Olha nêgo, espia mesmo
Arrepare o chão todinho
Pra todo canto que olho
Eu só vejo soldadinho

- Mas Maria, minha flor,
Soldadinho não se intriga
É o único soldado
Que nunca se mete em briga.

Eles são uns bichos mansos
Com o mundo apaziguados
É bicho que não faz guerra
Bem dizer nem são soldados

E se eles tão no chão
Não carece qu’eu lhe diga:
- Devem tá tomando uma
No cabaré das formiga!

João Pessoa, 06/11/2010.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Apoquentado



Com o peito esculhambado
Ante o que virou passado
Respiro um passo contado
Ofegando o cheiro teu;
Leviano a todo instante
Interpelo ao céu distante
Nuvem que segue adiante
Aonde o amor se perdeu?

UFPB, 04/11/2010.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Três motivos



Minha Flor, eu matutei
Pra por fim me encorajar
E a custo é que juntei
a coragem de chegar
bem aqui pra te falar
e saber teu parecer
sendo assim o meu tremer
não pondere ser normal
e até o grã final
ouça o qu’eu vim lhe dizer

Eu vou te dar três motivos
Para tu me bem querer:
Dou-te meu eu engenheiro
Que irá te enriquecer
E se isso não valer
Eu te dou meu eu faceiro
Pra tu rir o tempo inteiro
Mas se nem isso te afeta
Eu te dou meu eu poeta
E te faço um cancioneiro!

E se ainda nem assim
Mesmo com tanto atributo
Tu não quiseres a mim
Pra de amor ser teu conduto
Minha flor, fico de luto
Adoecido definho
Tal qual faz o pardalzinho
Que é preso na gaiola
E depois volto pra escola
Pr’aprender a ser sozinho!

Porém se tu me quiser
Minha flor, eu fico entregue
E o meu coração bobo
Se não endoidar eu cegue
Então, minha flor, sossegue
O anseio do meu peito
Dizendo se nesse pleito
Com o meu amor na cota
Se o teu coração vota
Pra eu ser o teu prefeito?!

João Pessoa, 02/01/2010.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A saudade é fio de vida



A saudade é fio de vida
Que nos mantém neste mundo
A viver nos corações
No recordar mais profundo
Mesmo depois que o corpo
Desfalece infecundo

Se hoje moro no céu
É por já ter completado
Aqui na terra a missão
Que Deus havia me dado
E terminado o ofício
O Pai me quis ao seu lado!

Não fiquem tristes por mim
Pensando por que parti
Mas sim contemplem o céu
Que tão azul lhes sorri
E lembrem o quão incrível
Foi a vida que vivi!

Timbaúba, 31/10/2010.

sábado, 30 de outubro de 2010

Pequena Borboleta Rosa - Musicada

Essa postagem trata de mais uma poesia musicada pela Bruna Alves. O nome da referida poesia é Pequena Borboleta Rosa e a mesma foi feita a bastante tempo atrás para uma outra grande amiga (Joyce), que na época estava para ir embora.


Espero que vocês apreciem.



Pequena Borboleta Rosa

Clique aqui para ouvir a música

Meu jardim ficou mais feio
Estremeceu sua perfeição
Pois ali ficaram as flores
Mas se foi a sua feição
Foi embora a borboleta
Batendo asas contenta
Voou pra imensidão


Foi se atrás de outras flores
Levou consigo seu riso
A gargalhada engasgada
A lentidão do seu tino
Deixou pra trás a saudade
De sua besticidade
Do seu jeito meigo fino


voa voa borboleta!
voa voa com pureza!
voa voa atrás de um sonho!
pois voar ti trás beleza!


João Pessoa, 03/05/2008.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mote bom da mulesta

Lá vou eu sapecando aqui debaixo algumas glosas minhas traçadas por cima do mote que me foi passado pelo Poeta Luciano Pedrosa, um cabôco malassombrado lá das bandas de Ouricuri-PE e que é altamente sabedor e fazedor de versos matuto-sertanejo-nordestinenses da melhor leva.

Mote:
“Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!”



É tanta coisa que tenho
Guardado dentro de mim
Que parece não ter fim
O anseio que contenho
E é por isso que venho
Para lhe solicitar
Que expresse meu penar
No seu cantar tão distinto
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!

Uma criança pedindo
Mendigando algum tostão
Meu Deus, mas que contramão
O presente está seguindo
É filho o pai agredindo
É padre a pedofilar
E eu sem saber glosar
Vendo o futuro extinto
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!

Tamanha disparidade
A humanidade expande
E nada que lhe abrande
Não é feito de verdade
E nessa desigualdade
Poucos comem caviar
E tantos sem nem jantar
Me deixam de fé faminto
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!

Olho pra lua um momento
E me vem um algo bom
Porém não alcanço o tom
Do som desse sentimento
Espicho meu pensamento
Do neurônio esquentar
E sem saber me expressar
Clamo neste labirinto
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!

Toda tarde eu esperando
Num banco na rua dela
Só pra ver a tal donzela
Tão lindamente passando
E eu fico só pensando
- S’eu soubesse recitar
Me danava a declamar
Carlos Pena, Louro e Pinto
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!

Poeta cante a canção
Porém cante com cuidado
Deixando bem divisado
Que foi do meu coração
Que saiu tanta expressão
Para a moça elogiar
Pois vai qu’ela dê pr’amar
A outro Mané Jacinto
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar!

João Pessoa, 26/10/2010.

Contramão do desejo



Na contramão do desejo
Eu trafego inconseqüente
Pois querendo fortemente
Eu finjo que nem almejo
Vejo e finjo que não vejo
Me viro pra não falar
E me perco por gostar
Sem saber transparecer
Meu amor, amo você
mas não sei me declarar!

João Pessoa, 26/10/2010.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Entrou comercial nas nossas vidas



Entrou comercial nas nossas vidas
Chegou a vez dos patrocinadores
Já deu de tanto dar em desamores
As mesmas cenas já tão repetidas
É hora de vender novas saídas
É hora da publicidade entrar
E um sorriso propagandear
A entreter àqueles que assistem
E que constantemente tanto insistem
Que um dia voltaremos a amar!

João Pessoa, 25/10/2010.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu vou diluir minhas mágoas no mar



Um mundo de água estende-se a fronte
E lá ao distante no céu se mistura
O mar é tão grande que tem curvatura
Formando um arco com o horizonte
É água demais pra ser só d’uma fonte
É água demais pr’uma seca secar
É água demais pr’uma chuva sangrar
É água demais pra pescar de tarrafa
É água demais que d'olhar dá estafa
É água demais que tem dentro do mar!

Um mundo de coisas cabe no meu peito
O meu coração é extenso demais
Porém anda chocho, andando pra trás
Porém anda penso, mofino e sem jeito
É mágoa demais pra um pobre sujeito
É mágoa demais pra quem só sabe amar
É mágoa demais, que nem dá pra agüentar
É mágoa demais para se engolir
Por isso na praia eu vou diluir
Eu vou diluir minhas mágoas no mar!

João Pessoa, 21/10/2010.

domingo, 17 de outubro de 2010

Entendesse?



- Ei! Deixa eu te contar um segredo?

- Segredo? Conta! Adoro segredos!

- Tá. É o seguinte: eu sou poeta.

- Poeta? Tu é poeta? Deixa de resenha!

- Sou sim moça, eu não tou dizendo.

- Então me recita uma poesia, que ai eu acredito.

- Tá certo. Posso fazer uma agora mesmo pra você, pode ser?

- Pode sim.

- Então tá, presta atenção:


Moça, tem jeito melhor

Tem um jeito mais sincero

Mais delicado, sutil,

Mais flamejado de esmero

Do que numa poesia

Eu dizer que não te quero?


- Eihn? Como assim? Isso é sério?

- Sim. Tá vendo como eu sou poeta?

- É... Tou.

A peleja de Júpiter e Saturno

E o zabumbeiro que morava numa estrela



Conheci um zabumbeiro
Que morava numa estrela
E que decidiu fazê-la
De terreiro forrozeiro
E lá o time primeiro
Do alto escalão do céu
Se juntou todo a granel
Pra dançar um bom forró
Beber, jogar dominó
E pra recitar cordel

Só tinha o alto comando
Do céu do nosso universo
Lá tava Plutão, disperso,
Com Vênus forrozeando;
Saturno tenso apostando,
No baralho, outro anel;
Urano cheio de mel
Cochilando num batente
E Júpiter prepotente
Cercado de xeleléu!

Uma farra de primeira
Num forró bom da mulesta
Dos que o salão empesta
De parelha dançadeira
Foi quando a bagaceira
Pela festa se expandiu
Que chega dá calafrio
De falar do ocorrido
Tamanho foi o muído
Que nesse instante se viu.

Júpiter por ser gigante
Se chegando no salão
Encostou-se em Plutão
E com seu jeito intratante
Tomou o seu par dançante
Chutando-lhe de coturno
E plutão todo soturno
Chorando um choro de orvalho
Foi na mesa do baralho
Chamar seu irmão Saturno!

E Saturno, valentão,
Inda perdendo no jogo
Levantou cuspindo fogo
Cheio das dores do irmão
E entrando no salão
De cara feia e bufando
Foi Júpiter empurrando
E o empurrado, valente,
Foi logo trincando os dentes
Com os seus punhos cerrando!

Tava feita à confusão,
Nesse balde de bravura
Júpiter foi na cintura
Desembainhando o facão.
Saturno de supetão
Mandou Plutão ir pro lado
E um anel amolado
Retirou do seu entorno
Dizendo: Seu grande corno
Hoje teu chifre é serrado!

Após ouvir este dito
Júpiter correu pra luta
Que do meio da disputa
Voava meteorito
E com o tamanho atrito
Desses dois corpos celestes
A lógica que reveste
As forças d’universo
Teve seu prumo transverso
De um leste pr’um oeste!

E pra dar melhor grandeza
Da amplitude da briga
Basta apenas qu’eu lhes diga
Que naquela afoiteza
Júpiter já sem defesa
Errou um soco e então
Saturno deu-lhe um doidão
Com tanta raiva em contexto
Que fez um ano bissexto
Fora de ocasião!

Quando a briga se acabou
Tava o mundo revirado
E o Zabumbeiro, coitado,
Computava o que restou
E o que ele encontrou
Foram restos de planetas
Um punhado de cometas
E Urano chêi de mel
Sem saber voltar pro céu
Caindo pelas banquetas!

Desse dia em diante
Os planetas intrigados
Se encontram separados
Num orbitar dissonante
E o zabumbeiro, emigrante,
Fez a mala, deu um nó
Deixou sua estrela só
Ao cantar dum pé-de-serra
E desceu aqui pra terra
Pra espalhar seu forró!

Timbaúba,16/10/2010

sábado, 16 de outubro de 2010

Bruna Alves: uma parelha do estopô!


Cabeça, tronco e membros: fora isso mais o quê?
A alma...!

Sem alma o ser humano não passaria de um macaco mais esperto e totalmente ereto.
Agora o que vem a ser a nossa alma?

De acordo com o dicionário Rideel a palavra alma quer dizer:

AL.MA

s.f. 1 Essência imaterial do ser humano. 2 Espírito. 3 Conjunto das faculdades morais e intelectuais do homem; pessoa. 4 Índole; vida; animação; coragem; entusiasmo; colorido. [...]

***

Essência imaterial do ser humano? Índole; vida; animação; coragem; entusiasmo; colorido?
Gostei disso.

Cabe direitinho onde eu quero colocar!

Pois o que eu quero dizer é que essa paulistana Bruna Alves tem no gogó um efluente de alma.

Sim...
A meu ver, ouvir, sentir e entender; quando ela canta, canta alma.

Pois ao pegar palavras inanimadas, palavras apenas faladas, com um quase nada de sentido; e fazer delas uma canção que transborda em sentimentos e emoção; a Bruna acaba por aflorar nas palavras essa tal essência imaterial que há na gente. É como se, no seu cantar, aquelas reles palavras adquirissem índole, vida, animação, coragem, entusiasmo e cor.

Desse jeito essa sereia de terra firme encanta enquanto canta. Fazendo palavras, frases e orações antes meramente escritas se tornarem canções cheias de alma, esse diferencial que nos mantém distante dos macacos.

E é por essas e outras que no meu ver, sentir e entender a Bruna Alves canta alma.

Agora veja e ouça do que eu estou falando você também.

Talvez sinta e entenda...
Talvez não...


Bruna Alves: uma voz do estopô do fim do mundo


Adormecido

Clique aqui para ouvir o esboço da música na voz da Bruna


O que eu sei é que de noite, quando eu vou dormir

Num lindo sonho tu vens a rir


Me dizendo baixinho

Me arrepiando todinho

- Ai, que bom de novo te sentir...


E eu não sei se ainda posso ser querido, querida

Se um novo amor tão garrido e sem medida

No coração pode existir...


E no meu peito, pobre peito iludido

Inda repousa depois de muito sofrido

Aquele amor que eu cultivei pra ti...


Que um amor de verdade não esquece

Ele adormece...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fim do mundo num trovão



Eu quero qu’esse mundo se acabe
Pra ver como seria a vida noutro
Se lá um ser pisaria no outro
Ou se seria só o que lhe cabe
Eu quero que o céu hoje desabe
E que nosso planeta se consuma
Eu quero que a riqueza vire bruma
E que na nossa vida noutro mundo
Não exista primeiro nem segundo
E assim qualquer desigualdade suma!

Eu quero todo mundo nivelado
Sujando os pés por sobre o mesmo chão
Num mundo onde alguém estenda à mão
Sem ter um interesse mascarado
Eu quero um mundo zerinho, zerado,
Sem cerca delimitando fronteira
Eu quero que a divina empreiteira
Derrube esse modelo infecundo
E que levante, então, um novo mundo
Que ostente a igualdade por bandeira!

Cansei de ser tal qual um caranguejo
Com outros caranguejos numa lata
Que quando está saindo tem a pata
Puxada pra o fundo do cortejo,
Cansei da predação que hoje vejo
Tomar a humanidade mundo a fora
Cansei do mundo que não quer melhora
E que caminha pra destruição
Por isso peço a Deus que um trovão
Pr'um mundo menos ruim me leve embora!

João Pessoa, 12/10/2010.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ode ao Chinelo de Couro



Eu não gosto de sapato
Pois sendo um bom nordestino
Não encontro no meu tino
Um só motivo sensato
Pra usar este artefato
Que tanto meus pés maltrata.
Eu sou mais minha alpercata
Com duas tiras de couro
Tiradas do melhor touro
Da minha zona da mata!

Eu não sou um burocrata
Para ter que usar sapato
E já sendo mais exato
Não vejo coisa mais chata
Nem ação mais inexata
Do que no calor da peste
Do mormaço do nordeste
Um caboclo se vestir
Com sapatos pra sair;
Isso é coisa pro sudeste...

Donde eu vim, homem se veste
Nos moldes de lampião
Onde o pé que toca o chão
De “percatas” de reveste.
Meu apreço é inconteste
Pr’essa veste que figura
Nos pés da nossa cultura
No andar do nosso povo
Por isso digo de novo
Sapato não me fulgura!

E que digam ser loucura
Essa minha posição
Qu’eu digo de supetão
- Desculpe a minha postura
De não seguir ditadura
Dos costumes de outrem
Mas ainda vou além
E meu chinelo de couro
Nem num sapato de ouro
Eu não troco com ninguém!

E você por que não vem
Descalço de obrigação
Pra sentir a sensação
Que da “percata” advém?
Dispa os seus pés também
Dê-lhes um respiradouro
E descubra esse tesouro
Da cultura nordestina
Que pro mundo se empina
Sobre um chinelo de couro!

João Pessoa, 11/10/2010.

domingo, 10 de outubro de 2010

Fábrica de Bonecos

Mundinho merda



Esse mundo está mais pra lá que pra cá
O futuro, sem voz, já perdeu o seu eco
O dinheiro aliena só pra manobrar
Transformando os jovens em reles bonecos!

Hoje em dia bonito é um paredão
Que não é nada mais do que caixas de som
Onde tocam canções do mais baixo escalão
Que o dinheiro empurrou como sendo o bom...

E a riquinha que teve acesso ao melhor
Bebe a pinga que um Zé Qualquer lhe ofereça
E obedece ao que diz o refrão de um forró
Tá rodando seu copo por sobre a cabeça...

E o riquinho que tem seu papai costa-quente
Saliente, coloca seu som nas alturas
E assim já se vão os ouvidos da gente
E assim vai morrendo a nossa cultura...

Hoje em dia o bonito é ser um ser bosta
Que se amostra pra ser o melhor da galera
E se a juventude é disso que gosta
Eu nem quero pensar no amanhã que me espera!

Pois tamanha é minha indignação
Ao notar as topadas que o mundo dá
Qu’eu queria falar com tal do Platão
Pra voltar pra caverna e não sair de lá!

João Pessoa, 10/10/2010.

sábado, 9 de outubro de 2010

Contanto



Se o sol faz a manhã
Para teu dia aquecer,
Se a flor do flamboyant
Imita teu proceder
E até Seu Lunga ri
Feliz da vida ao te ver;
Quem é este pobre aqui
Pra sonhar em ter você?

Pois eu posso não ser muito;
Porém, muito, posso ser!
Eu posso ser mais que o sol,
S’é pra teu corpo aquecer;
Posso ser mil flamboyant’s,
Se quiseres florescer;
E posso ser tudo quanto,
Contanto que com você!

João Pessoa, 04/10/2010.

Dom Pixote dos Mocós



De tanto ver na TV
Lindas histórias de amor
Onde depois de sofrer
A atriz e o ator
Terminavam se acertando
Um ao outro perdoando
E tendo um final feliz
Dom Pixote dos Mocós
Deixou a rotina atroz
E saiu pelo país...

Entrando no seu fusquinha
Cheio de fé e de fome
Foi atrás da sua história
Do romance com seu nome
Tendo fome de aventura
Buscava naquela altura
Em sua vida sem cor
Sair da mesma mesmice
E viver uma doidice
Dum grande caso de amor!

Sendo assim partiu sem rumo
Indo pro lado do norte
Não olhando para trás
Foi correr atrás da sorte
Numa jornada marcada
Por não ter fim a estrada
Que pra frente se inclina
E por ela Dom Pixote
Seguiu sem ter holofote
Com a fé de gasolina!

Ele foi rodar o mundo
Onde um dia há de ver
Que na vida de verdade
Os romances da TV
Não tem um fim ideal
Mas que seu final real
Tem, de bom, o mesmo alcance.
Alcance que Dom Pixote
Há de usar como mote
Para viver seu romance!

Dom Pixote dos Mocós
Pode até parecer louco
Por virar a sua vida
Por quase nada, tão pouco;
Porém ele teve um sonho,
Mesmo que meio bisonho
Como um filme na TV,
E depois teve a coragem
De quebrar a engrenagem
Pra fazê-lo acontecer!

João Pessoa, 09/10/2010.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Oitavas de namoro



Pequena, contigo em cena
Um “algo bom” me acena
E eu fico tal Hiena,
O mais risonho animal;
Enquanto que sem você
Eu vivo não sei pra quê
E só consigo viver
Na base do sonrisal!

Pois viver tem sido assim:
Com você perto de mim
Meu sorriso não tem fim,
Tudo é felicidade;
Porém quando tu se vai
O meu brilho se esvai
E eu viro um samurai
Sem espada de verdade!

Por isso, moça Pequena,
Me liberte dessa pena;
Seja o ar que oxigena
O sufoco do que digo;
Seja, do meu quadro, o giz;
Seja minha imperatriz;
Me diga o que você diz:
Tu quer namorar comigo?!

João Pessoa, 06/10/2010.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Bêbado e a Catrevagem



Nunca jogue seu sorriso
No meio da multidão
Muito menos pisque um olho
Sem apontar direção
Pois uma coisa é verdade
Diz a probabilidade
Que com desvio-padrão
A chance tá na metade
De chegar numa beldade
Ou numa mulher dragão!

Também não deixe que o álcool
tire sua sanidade
Pois a merda que se faz
Fica pra posteridade
E não vai adiantar
No outro dia falar
Que não lembra nem metade
Muito menos inventar
Que fez pra exercitar
O bem e a caridade!

Digo isso por Cornélio
Um cabôco abestalhado
Que se espalhou num show
Sorrindo pra todo lado
Até quando de repente
Parou bem na sua frente
Um chupa-cabra chupado
Com um olho pro poente
Outro olho pro nascente
E um riso desdentado!

E o dito alucinado
Atracou-se nesse cão
No meio de todo mundo
Tome beijo e pegação
Era aquela extravagância
Que olhando dava ânsia
Alergia e comichão
E nisso só por vingança
Um bebum dizia: avança,
Desce mais a tua mão!

Pois depois dessa ação
Desse ato inconseqüente
Sem falar do seu sumiço
Com a princesa sem dente
Desculpe se é preconceito
Mas Cornélio foi eleito
Como o bebo mais valente
E eu digo sem despeito
Eu acho mesmo é bem feito
Por beber mais que a gente!

João Pessoa, 05/10/2010.

domingo, 3 de outubro de 2010

Poesia por si só...

Hoje cedo alguém falou de vovó à mesa e uma imagem imediatamente me veio à mente, fazendo com que eu me desmanchasse por dentro.
Claro que ninguém notou qualquer alteração em minha face; afinal, minha emoção, desde sempre, mostra-se tão sutilmente quanto aquela estrela que vive perto da lua. De forma que já me habituei ao fato de ninguém nunca notar quando estou triste, chateado ou mesmo bem humorado.

Porém não é este assunto que está em pauta. O fato é que falaram de vovó à mesa e uma imagem me veio à cabeça; descendo, desta, até o cristalino dos meus olhos.

Trata-se de uma imagem que está imortalizada de forma fotográfica. A fotografia de um momento tão mágico que chega a ser inadjetivável. Um momento daqueles que quando passa em branco a vida perde parte de sua cor. Um momento fotografado em uma fotografia que fala por si só e que falou baixinho no meu ouvido assim que alguém citou vovó hoje cedo à mesa.

Eu morro de saudades de vovó... E a sua imagem, naquele momento, ainda permanece engastada na menina dos meus olhos.

No entanto, como sou incapaz de poematizá-lo (o momento) em sua total magnitude de sentimentos, vou continuar lembrando-me dele apenas com uma imagem numa fotografia. Uma fotografia que é poesia por si só!




Timbaúba, 03/10/2010.

sábado, 2 de outubro de 2010

Cafuné



O teu carinho é assim
De mexer tanto comigo
Que, com meus olhos, mendigo:
Faz o teu carinho em mim
Qu’eu fico feito um pudim
Mole, macio e meloso;
E se algo é mais gostoso
Do que um doce de leite
Só pode ser o deleite
Do teu cafuné dengoso...

Pois teu afago é tão bom
Que me arrepia o pêlo
Quando pelo meu cabelo
Os teus dedos de pompom
Tocam solando sem som
As notas do meu cangote
E eu sendo assim pixote
Na arte do seu carinho
Já me desmancho todinho
Tal e qual faz um filhote...

Um filhotinho sem raça
Que quando ganha um afago
Fica balançando o rabo
Com o coração de graça
Que nem máscara disfarça
Minha cara de pudim;
E se isso for ruim
Eu, todavia, nem ligo
E, com meus olhos, mendigo:
Faz mais cafuné em mim!


Timbaúba, 02/10/2010.