sábado, 28 de agosto de 2010

Multifacetada



Essa moça que povoa
O céu do meu pensamento
Tem um jeito que garoa
Com um fino sentimento
Meu pé de discernimento
Confundindo meu pensar
E de tanto a olhar
Com meus olhares concisos
Distingui quatro sorrisos
Dos quais vou arrazoar:

Tem um sorriso forçado
É sorriso de mentira
Sorriso vitrificado
Que atuando se estira
Sorriso que ela’tira
Quando tenta agradar
E até neste enganar
Deste sorriso pirata
O seu sorriso inda mata
A raiva de quem olhar...

Tem outro riso sem graça
É sorriso encabulado
Que às vezes se disfarça
No seu rosto avermelhado
É um sorriso ameigado
Assim de boca pequena
Acompanhado, na cena,
Por um olhar distraído
E um rosto enrubescido
Que a timidez acena!

Tem outro riso espontâneo
De pura sinceridade
Que surge do instantâneo
Da real felicidade
É sorriso de verdade
Como diz no dicionário
Um sorriso relicário
Verdadeiro afluente
Da beleza estridente
Que dispensa comentário!

E tem um quarto sorriso
Difícil de definir
É um sorrir impreciso
Qu’ela deixa escapulir
Meio que sem nem sentir
Meio que sem nem notar
Mas que faz tudo parar,
Faz o fogo arrefecer
E o sol esmorecer
Pra deixar ele brilhar!

E com seu riso em meu laço
Sou criança abestalhada
Faço questão, sou palhaço
Só pra ver outra risada
Não ligo pra quase nada
Meu senso pormenorizo
Ironizo, rivalizo
Pra ela rir de doer
Enquanto eu tento esconder
Que só tenho um sorriso!

João Pessoa, 28/08/2010.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Poesia da Observação - Timbaúba



Chove forte em Timbaúba
Já no cair da noitinha
Então os postes acendem
Na Praça de Timbaubinha
Donde um casal vem vindo
Dividindo a sombrinha.

Já na alta madrugada
O céu cansado serena
E na Praça João Pessoa
Não se vê nenhuma cena
Que não seja o balançado
Do arvoredo que acena.

Então o dia amanhece
Lá na Praça de Mocós
E um bem-te-vi se mostra
Cantando e soltando a voz
Como quem diz: Obrigado
Meu Deus por cuidar de nós!

João Pessoa, 24/08/2010.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Amor: jogo de ludo



Você já se perguntou
Em quê o amor agrega?
Pois imagine um jardim
Que não chove e ninguém rega
E se isso não bastar
Imagine o que é voar
Sendo uma cabra-cega!

Amor é investimento
Com alta taxa de risco
Tem quem entre com um olho
E saia só com um cisco
Porém bem mais comumente
A gente colhe a enchente
Tendo investido um chuvisco!

Tudo bem que o amor
Pode ser um cogumelo
Que por vezes é nocivo
Mesmo sendo assim tão belo
Porém viver sem amar
É como se alimentar
Tão somente de farelo!

Então quem quiser amar
Tem qu’estar bem preparado
E, sendo assim, não ligar
Se há valor agregado
Pois como um jogo de ludo
No amor se aposta tudo
Pra depois jogar o dado!

João Pessoa, 23/08/2010.

Jangada sem vela



Jangada que não tem vela
Não navega todo o mar
Pois não tendo a liberdade
De no vento navegar
Só vai onde sua vara
Conseguir lhe empurrar!

João Pessoa, 23/08/2010.

domingo, 22 de agosto de 2010

O curta-metragem dum beijo de amor



Mais um filme de amor
Numa praia a rodar!
Estrelando: ele e ela;
Diretor: o verbo amar;
Trilha sonora: as ondas;
O compositor: o mar!

Começa então a filmagem!
Cena um: a alvorada.
Um meio sol surge à fronte,
Detrás da água salgada,
Vai pintando o horizonte
D’uma forma apaixonada!

Cena dois: ele a olha
Sem saber o que falar,
Dá um sorriso sem graça,
Então puxa fundo o ar
Enquanto ela, nervosa,
Finge estar olhando o mar...

Cena três: ela o olha
Sem saber como agir,
Faz menção de dar um beijo
Depois menção de fugir,
então acalenta a pressa;
Decide não decidir!

Penúltima cena: o sol,
Agora um sol integral,
Começa escalando o céu
E iluminando o casal.
Então ele se encoraja
Soltando o ato final:

Ele aproxima o rosto,
Olhando os olhos da bela,
Enquanto na sua face
Um sorriso se revela,
Pois enfim criou coragem
Para dar um beijo nela!

Cena final: é o beijo
Que faz o tempo parar
E os beijantes só escutam
A respiração do mar,
Suspirando suas ondas
Querendo também beijar!

Após isso o filme acaba
Com esse belo final
E nos créditos o amor,
No beijar desse casal,
Aparecer como sendo
Personagem principal!

Timbaúba, 22/08/2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O calango antropófago



Dentro da fenda naquele lajedo
Justo na rocha formando um losango
Mora um gigante, um enorme calango
Do qual o povo se péla de medo
Reza a lenda que um dia bem cedo
Um sertanejo se acocorou-se
Perto da rocha que o bicho entocou-se
E o calango varado de fome
Dando um só bote engoliu o “home”
Tal qual menino que engole um doce...

E eu pensando fico admirado
Como meu povo é tão criativo
Pra inventar que um sujeito vivo
Por um calango foi abocanhado
Eita nordeste da gota, arretado
Terra da pedra que forma um losango
Onde habita um enorme calango
Que se alimenta da gente humana
Que se abestalha assim leviana
Perto da fenda na hora do rango!

João Pessoa, 18/08/2010.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Afeto no canudo

O afeto é como a sujeirinha que há nas paredes internas de um canudo... E a gente, displicentemente, toma afeto e nem percebe!


Quem diz ser feliz sozinho
Não é feliz de verdade
Não tendo a felicidade
Do abraço, do carinho
Do cafuné, do beijinho
Das palavras infantis
Das coisinhas mais sutis
Do afeto sem aviso
E quem não partilha o riso
De fato não é feliz!

João Pessoa, 17/08/2010.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Meu amor pé de tutti-frutti



O meu amor é incrível:
Por mais que você desfrute
Ele é tão intangível
Quanto um pé de tutti-frutti!

O meu amor não tem cor,
Leste, oeste, norte ou sul
Mas onde seu olhar for
Verá meu amor azul

Pois meu amor é assim
Sendo amor quase sem ser
Far-te-á amar a mim
Sem você nem perceber!

UFPB, 16/08/2010.

domingo, 15 de agosto de 2010

Desabafamento



Ando chocho, estressado;
Por qualquer coisa bufando
E olhe qu’eu já mal ando,
Andar “me deixa” emburrado;
De noite em casa, cansado,
Depois d’um dia exaustante
Tomo um frasco de calmante
Deito ao luar noturno
Fecho os olhos e não durmo
Em mais um dia brochante...

Será o som das buzinas
Com seus berros irritantes?
Será o gás causticante
Que, dos escapes, germina?
Será qu’é essa rotina
Daqui da cidade grande
Que faz com que a gente ande
Sem tempo pra olhar de lado?
Não sei, pois tá tudo errado
E o erro só se expande!

"Tô" precisando de paz,
De isolar-me do mundo;
Cansei de ser moribundo,
Capacho de um capataz...
Eu não quero olhar pra trás
Daqui a cinqüenta anos
E contemplar desenganos!
Quer’um futuro graúdo
E pra tentar mudar tudo
Eu vou refazer meus planos!

A partir de amanhã
Não durmo mais de lençol,
Pra que logo cedo o sol
Mostre-me que é manhã;
Desisto de ser galã;
Compro uma bicicleta;
Do emprego pego a reta;
Vendo meu apartamento
E deixo pra testamento
Só o que fiz de poeta!

João Pessoa, 15/08/2010.

sábado, 14 de agosto de 2010

Game-over na Chanselisê

Um cordel de "até já" para o grande amigo Gilson Romero!



Tal qual a semente alada
Que, presa ao galho, balança
Até que uma rajada
De bons ventos lhe alcança
Gilson tá sendo soprado
Pra de Goiana um bocado...
Lá vai o nego pra França!

É a vida em sua andança
Transpondo suas passagens
Onde o tempo, de mudança,
Preenche nossas bagagens
Com novas experiências,
Novos rostos e essências
Novas ruas e paisagens...

Quem diria que o magrelo
Vindo lá do interior
Com um sorriso amarelo
E com feitio morgador
Conseguiria engordar
Ou melhor, desenrolar
E tornar-se o pegador?

Gilson Bob, Nego Bob
Game-over ou mozão
Bem que tentou virar lenda
No curso de produção
Fato quase alcançado
Já que nosso ex-blocado
Reprovou manutenção!

Já em provas de afeição
Nunca tirou nota zero
Tendo no seu coração
Toneladas de esmero
Nem lá na ilha de LOST
Não há ninguém que não goste
Desse tal Gilson Romero!

Mesmo seu jeito morgado
Já passa despercebido
Frente a pureza e o bem
Que nele há embutido
E estando ao seu lado
Sei que fui agraciado
Por tê-lo lhe conhecido

E eu sendo o seu amigo
Que o povo diz que é poeta
Cuspindo versos lhe digo
“Parabéns por essa meta!”
Sem deixar de aludir
Qu’ele bem devia ir
Pra França de bicicleta!

João Pessoa, 11/08/2010.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sorvete



E daí se faz mau tempo?
E daí se o sol não vem?
Vou pra rua e me exponho
Ao dia triste e sem cor...

Tomo um sorvete de vento,
Com cobertura de nuvem:
Uma casquinha de sonho
Com uma bola de amor!

João Pessoa, 09/08/2010.

Passarinho Correio - Vídeo

Uma voz sorvete de vento, com cobertura de nuvem, numa casquinha de sonho e duas bolas de amor



Passarinho Correio na voz de Bruna Alves

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Galho Engembrado

O Brasil velho empenado e o pequeno catador de latinhas



Brasil de poucos humanos
Ah, Brasil velho sem graça
Ontem vi na tua praça
Um guri de poucos anos
Vestindo resto de panos
No meio da multidão
Procurando pelo chão
Alguma lata jogada
Pra trocar por quase nada
E por sua educação!

Pobre criança amarela
Que quando enche a barriga
É por ter uma lombriga
Morando no ventre dela
Como pode um tagarela
Em ano de eleição
Ver esta situação
Fazer um belo discurso
E depois manter o curso
Nutrindo essa condição!

Ó Brasil velho empenado
Envergado se renovas
Sem ver as gerações novas
Crescerem de um jeito errado
Tal qual um galho engembrado
Que para baixo cresceu
Ontem vi o filho teu
Que nasceu para ser renda
De uma bolsa merenda
Que alguém mal concebeu!

João Pessoa, 06/08/2010.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Procura-se



Procura-se aquele sorriso marcante
Da dona daquela estranha sombrinha
Vestindo o vestido de brancas bolinhas
E aquele “kichute” de menino infante;
Procura-se aquele olhar penetrante
Cravado naquela expressão de princesa
E aqueles cabelos cheios de leveza
Em cachos de uva, da cor do escuro;
Procura-se aquele andar tão seguro
Que me fez travar ante tanta beleza!

Procura-se a moça com traços de anjo
que faz o mais-mais se sentir-se mais-menos;
Procura-se pela irmã gêmea de Vênus
Que tira do prumo o mais reto marmanjo,
Causando no peito um vão desarranjo;
Procura-se a moça que tanto me afeta
E a quem encontrar que contate o poeta
Que hoje suspira num peito ao revés,
Lembrado do show no Ponto dos Cem Réis
Aonde o cupido tascou-lhe essa seta!

João Pessoa, 04/08/2010.

Princesa Anne



Numa terra distante chamada de “Timbaúba de Cima”, em um reino no vale de Araruna, existe um palácio repleto de pés de acerola, goiaba, cajarana, cajú, graviola e pitanga. Num dos jardins desse palácio há também um esplêndido roseiral, com rosas de todas as cores, tamanhos e odores.

Quer dizer... nem todas as cores, nem tamanhos, nem odores. Falta-lhe ainda uma rosa... uma rosa bem especifica; uma rosa que subirá nos pés de acerola, de cajarana, de graviola, no cajueiro, na goiabeira, na pitangueira; uma rosa que vai se arranhar correndo desatenta por entre as outras roseiras do roseiral; uma rosa cheia de cor, de graça, de vida; cheia de luz... uma luz que a capaz de fazê-la cintilar e voar livre como uma bola de sabão!

E dessa forma, que essa rosa venha logo. E que chegando, que seja uma rosa bola de sabão com status de princesa ou uma princesa bola de sabão com status de rosa!

Não importante a ordem, o reino está em festa e a festa é pra ela: A Princesa Anne, a rosa mais bela!

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Princesa Anne
Lá no reino de Araruna
Em Timbaúba de Cima
No palácio do grão-rei
Uma graça se aproxima
E a corte da majestade
Vive em tal felicidade
Que não há verso qu’exprima!

Pois se aproxima a chegada
da flor de maior beleza
da rosa mais esperada
no jardim da realeza
e o bobo da corte, em festa,
grita: fulô como esta
é o auge da riqueza!

Enquanto o povo comenta
Pelas vilas do reinado
Qu’esta graça só assenta
Ser, o reino, abençoado
E por toda Timbaúba
A notícia se aduba
E este fato é louvado!

E tendo o tempo chegado
Que a luz, da corte, emane
E o reino extasiado
Olhe pra cima e exclame:
Obrigado Deus da vida
Por essa recém-nascida...
Querida princesa Anne!

E que Deus se afeiçoe
Tomado pela emoção
E que, olhando, abençoe
Sua nova criação;
Fazendo, por fantasia,
Uma nuvem de alegria
Chover bolas de sabão!

João Pessoa, 03/08/2010.

domingo, 1 de agosto de 2010

Só de ruim...



Ele está curtindo a noite
Com seu ego cabuloso
Mas de repente um acoite
Um abalo poderoso
Treme até o seu espanto
Na beleza, no encanto
Que contém a senhorita
Que se chega assim chegando
Nem sequer lhe reparando,
O quê lhe gama e lhe irrita!

Ela se chega raiando
Um holofote de graça
Com seu sorriso tomando
O foco por onde passa
Ela pode conquistar
O que mais lhe agradar
No estabelecimento
Porém fica encantada
Com aquele camarada
Que não lhe dá cabimento

E agora, vocês vejam
Onde isso vai parar,
Dois bicudos não se beijam
Por mais que queiram beijar
Então a coisa complica
Cada ego se embica
E a peitica toma forma
Pois os dois se desejando
Na festa vão pleiteando
Sem palanque ou plataforma!

Só de ruim ele nem olha,
Só de ruim ela também,
Só de ruim ele se amostra,
Só de ruim ela nem - nem...
Só de ruim ele sorri,
Só de ruim ela só ri
Da graça de outro afim;
Só de ruim a noite finda
E ela lhe acena, linda,
Indo embora só de ruim!

João Pessoa, 01/08/2010.