domingo, 28 de novembro de 2010

Estrela de Tuparetama

A poetisa Mariana Teles, natural de Tuparetama-PE, é um daqueles seres encantados dos quais seria um disparate chamar de ser humano. Costumo dizer que quando essa menina-moça-senhorita-poetisa (a mulesta toda!) escreve, escreve montada em cima duma nuvem; e é de lá, balançando seus pés na vastidão do céu, que essa danada fica observando a gente, o bicho-incompleto-homem, e esse mundinho onde vivemos, pra assim escrever suas poesias.

Ler uma poesia dessa poetisa ainda tão jovem e já tão grande nos leva impreterivelmente ao mundo da admiração. E sendo eu um grande admirador dessa moça, inventei de escrever um soneto pra lhe homenagear, no qual disse:
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Quando o barro rachado vira lama
No chover duma nuvem bem chuvosa
E a água correndo caudalosa
Vai pintando de verde a cinza rama;

Quando o escuro da noite se derrama
E a lua o enfrenta, corajosa;
Quando o cheiro do mato cheira à glosa
E o vento ventando lhe declama;

Essa moça observa atentamente
E rimando compõe outro presente
Pra quem gosta de boa poesia.

Quando escreve ela faz-se transcender
E quem lê não escapa de dizer:
“Deu a gota!”, “Que lindo!”, “Ave-Maria!”

João Pessoa, 24/11/2010.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tal e qual um Pardal

O poeta Vinícius Gregório, que reside no Recife (onde estuda) mas é natural da cidade de São José do Egito-PE, compôs um soneto da mulesta intitulado "Eu e o Galo-de-Campina", o qual ele arrematou dizendo: O meu canto é um canto de lamento. / A gaiola é o o meu apartamento. / E a saudade que sinto é do sertão. E foi justamente parafraseando esse fantástico soneto que rabisquei os versos abaixo:


Tal e qual um Pardal



Que saudade me dá de Timbaúba
Da caiana, a colheita, o malunguinho;
Da cultura que o tempo não derruba;
Do reisado, do boi e caboclinho.

Como é grande a saudade que me encerra;
Do meu mato, meu céu, do meu cantinho.
Tanto tempo distante a minha terra;
Tou morrendo, meu Deus, devagarzinho!

Sem sertão, se Vinícius se destina
A sofrer tal qual Galo-de-Campina,
Eu sou mesmo que ver a um Pardal

Que definha cativo à beira-morte,
Tando longe do ar da Mata Norte
Preso num alçapão na capital!

João Pessoa, 23/11/2010.

domingo, 21 de novembro de 2010

O matuto e Dadá



O matuto, mas matuto daqueles matutos mesmo, tá parado no meio do salão mais agoniado do que cachorro quando quer obrar... Querendo se declarar entorna três quartinhos de cana de cabeça e se atrepa no primeiro toco que acha no meio do salão. Alevanta os braços, se balança no centróide corpóreo e, dando duas tapas no peito pra chamar a atenção do povo, se desemboca a bradar:

- Quando é chegado o tempo
A gente acorda a contento
Como que o coração
Tivesse o pressentimento
De que chegou o instante
De abandonar o lamento

Quando se chega o momento
A tristeza não vigora
E sobre o velho jardim
Um novo jardim aflora
À luz do dia mais belo
Na cor da mais bela aurora!

Pois quando se abate a hora
A gente sente no ar
E de repente o espelho
Reflete no nosso olhar
Um brilho que só existe
Em quem vai se apaixonar!

Por isso pude notar
Que chegou a minha vez
Pois depois que vi Dadá
Esbanjando polidez
Meu olhar cintilou tanto
Que a noite se desfez!

Que ao me olhar Dadá fez
Com que eu me superasse
E da cova do sofrer
Sorrindo eu me levantasse
Foi Dadá que imprimiu
Esse riso em minha face!

E sem ter o que disfarce
Todo bem qu’ela me dá
Eu inventei esta graça
Pra declarar pra Dadá
Que mulher igual a ela
Nesse planeta não há!

Chegue Dadá, vem pra cá
Vem ficar juntinho d'eu
Vem pra fazer companhia
A esse jeitinho teu
Que já fincou moradia
Cá dentro do peito meu!

João Pessoa, 21/11/2010.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sentimento ambientalista



Só vejo desmatamento
Nas florestas do amor
Hoje em dia é só furor
Ninguém quer mais sentimento
Mas eu sou dos 1 por cento
Que ainda quer amar
E amor reflorestar
Por isso que amanhã
Vou plantar um flamboyant
Pra meu bem se balançar

Eu viro ambientalista
Eu replanto a Amazônia
Depois fundo uma colônia
Com o nome dela a vista
E logo depois na lista
Da colônia batizar
Para o dia embelezar
De frente ao nosso mocambo
Vou plantar um pé de jambo
Pra meu bem se balançar

E se meu bem não quiser
Balançar no flamboyant
Ou no jambo, eu com tupã
Arrumo um trato qualquer
Pra que ele finque pé
De muita chuva mandar
E então fincando a pá
Perto duma cachoeira
Vou plantar uma mangueira
Pra meu bem se balançar

E s'ainda nem assim
O meu bem não "me querer"
Eu boto pra endoidecer
Dano nas plantas cupim
Depois queimo meu jardim
Planto capim no pomar
Armo um circo no lugar
E na atração primeira
Eu vou plantar bananeira
Pra meu bem se balançar!

João Pessoa, 17/11/2010.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Pra quando for trocado



Arrazoar quem perdeu
Não é a forma correta
Tem mulher que não nasceu
Pra ser musa de poeta
E consegue de verdade
Encontrar felicidade
Com um riquinho pateta!

Por isso, pra que ter meta?
Ninguém ganhou ou perdeu
Nós ficamos no empate
Tu com o teu Zebedeu
Com o seu carrão bolado
E eu desacompanhado
Só eu e meu pobre eu!

Pobre porque concebeu
Uma musa tão pequena
E que displicentemente
Deixou-te estrelar a cena
Pobre por ter apostado
Numa jogada de dado
Que você valia a pena!

Mas antes duma quinzena
Posso te assegurar
Eu terei uma centena
De musas pra seu lugar
E você, meu Deus do céu,
Não terá mais meu corcel
Pra de noite passear!

E se aí você ficar
Triste com seu namorado
Mesmo que dando voltinha
Num Lamborghini importado
É tarde, minha querida,
E nunca mais nessa vida
Você me terá ao lado!

João Pessoa, 15/11/2010.

sábado, 13 de novembro de 2010

Mote bom da mulesta II

Mote sugerido pelo Poeta Cícero Belmonte, um malassombrado de primeira apanha que já tem seu lugar assegurado entre os grandes vates do sertão:

“Nada quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!”



Meu Concriz, meu Amor, minha Paixão
Não s’acanhe com que o povo fala
Nada disso me atinge ou me abala
Nem faz sombra de ser desilusão
Pois contigo aqui no coração
Ah meu anjo, meu juízo me diz:
- Ela é tudo que a gente sempre quis,
Então corra e dê-lhe esse recado:
Nada quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!

O que foi já passou, ficou pra trás
Já perdeu seu valor, já não tem mérito
Tanto que se tornou então pretérito
E no fio da memória se desfaz
Não me importa o que fostes lá atrás
Se passastes tirando um fino, um triz
De na zona tornar-se meretriz
Pois pra mim isso é fato superado
Nada quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!

O que sinto por ti não tem medida
E não há nenhum mal adjetivo
Ou má fama que beire ser motivo
Pra que essa paixão seja ferida
Eu só quero saber da tua vida
A partir de agora, meu Concriz,
E se o povo insistir em ser Juiz
Eu na tapa me faço advogado
Pois não quero saber do seu passado
Eu só quero fazer você feliz!

Glosas: Jessé Costa
João Pessoa, 12/11/2010.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Acercando sobre fé



Nessa vastidão de mundo
O que me vem a ser fé
É acreditar que a vida
Vale tanto quanto é
Mesmo com tanto porém
Nas notas de rodapé

É creditar na verdade
Acreditando bem muito
Que se eu juntar vontade
Formando um grande conjunto
E gritar: - Felicidade!
A danada vem pra junto…

E confiar lesamente
Com toda convicção
Apostando os batimentos
Que movem meu coração
Que se eu cair de cara
Vem alguém e dá-me a mão!

O que me vem a ser fé
É esse negócio bom
Que explica o impossível
Sem balbuciar um som
Por isso qu’eu digo: - Fé,
Isso sim é um grande dom!

UFPB, 08/11/2010.

sábado, 6 de novembro de 2010

No cabaré das Formigas



Maria gritou: - José,
Acode aqui no quintal
Que isso só pode ser
Outra guerra mundial!

- Olha nêgo, espia mesmo
Arrepare o chão todinho
Pra todo canto que olho
Eu só vejo soldadinho

- Mas Maria, minha flor,
Soldadinho não se intriga
É o único soldado
Que nunca se mete em briga.

Eles são uns bichos mansos
Com o mundo apaziguados
É bicho que não faz guerra
Bem dizer nem são soldados

E se eles tão no chão
Não carece qu’eu lhe diga:
- Devem tá tomando uma
No cabaré das formiga!

João Pessoa, 06/11/2010.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Apoquentado



Com o peito esculhambado
Ante o que virou passado
Respiro um passo contado
Ofegando o cheiro teu;
Leviano a todo instante
Interpelo ao céu distante
Nuvem que segue adiante
Aonde o amor se perdeu?

UFPB, 04/11/2010.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Três motivos



Minha Flor, eu matutei
Pra por fim me encorajar
E a custo é que juntei
a coragem de chegar
bem aqui pra te falar
e saber teu parecer
sendo assim o meu tremer
não pondere ser normal
e até o grã final
ouça o qu’eu vim lhe dizer

Eu vou te dar três motivos
Para tu me bem querer:
Dou-te meu eu engenheiro
Que irá te enriquecer
E se isso não valer
Eu te dou meu eu faceiro
Pra tu rir o tempo inteiro
Mas se nem isso te afeta
Eu te dou meu eu poeta
E te faço um cancioneiro!

E se ainda nem assim
Mesmo com tanto atributo
Tu não quiseres a mim
Pra de amor ser teu conduto
Minha flor, fico de luto
Adoecido definho
Tal qual faz o pardalzinho
Que é preso na gaiola
E depois volto pra escola
Pr’aprender a ser sozinho!

Porém se tu me quiser
Minha flor, eu fico entregue
E o meu coração bobo
Se não endoidar eu cegue
Então, minha flor, sossegue
O anseio do meu peito
Dizendo se nesse pleito
Com o meu amor na cota
Se o teu coração vota
Pra eu ser o teu prefeito?!

João Pessoa, 02/01/2010.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A saudade é fio de vida



A saudade é fio de vida
Que nos mantém neste mundo
A viver nos corações
No recordar mais profundo
Mesmo depois que o corpo
Desfalece infecundo

Se hoje moro no céu
É por já ter completado
Aqui na terra a missão
Que Deus havia me dado
E terminado o ofício
O Pai me quis ao seu lado!

Não fiquem tristes por mim
Pensando por que parti
Mas sim contemplem o céu
Que tão azul lhes sorri
E lembrem o quão incrível
Foi a vida que vivi!

Timbaúba, 31/10/2010.