quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Recesso

Aproveitando que a UFPB arreganhou-me férias de uma semana, tirei um tempo pra me versar melhor na arte armorial encantatória da escrita. Nesses dias estou lendo um livro do Papa Berto I, da santíssima Igreja Católica Apostólica Sertaneja. O livro chama-se O ROMANCE DA BESTA FUBANA e eu aqui lhes deixo com um trecho desta históra singularmente nordestina:


“- Sou diplomado. Não tem coisa debaixo do sol que não esteja no meu conhecimento. Sei desde a ciência geométrica e o estudo do triângulo retângulo até os segredos das ciências ocultas. Conheço o Brasil nas quatro esquinas e já viajei de navio. Estive na guerra da Itália e sou capaz de vasculhar a terra dos estrangeiros igual eu ando nas ruas de Ingá do Bacamarte, na Paraíba do Norte, onde nasci. Me criei solto, pegando chuva, suor e sereno, e desde novinho aprendi a caçar o ganho para minha sobrevivência. Com doze anos, já estava no mundo. Não sou rico, mas tenho o almoço e o jantar e sei ganhar o meu sustento em qualquer seara. Já tive três oportunidades de fazer fortuna e desprezei todas elas. A última foi um ajuste de casamento que larguei de véspera para não deixar a minha vida de passarinho. Porque se tem uma coisa que eu prezo no mundo, é a liberdade que tenho para ir e voltar e fazer tudo que me der vontade. Carrego muitas saudades no peito e sempre deixo saudades por onde passo, porque saudade é a marca registrada do meu caminho, e quem quiser me achar, é só seguir nas pegadas dela. Ninguém até hoje foi capaz de esquecer minha presença, e eu acho muito natural que todo mundo que me conhece viva com meu nome na boca. Não sou orgulhoso, mas também acho que humildade demais não faz bem ao caráter de um cidadão decente, como eu sei que sou. Vivo bem a minha vida; aliás, para não faltar com a verdade, vivo da melhor maneira que seria possível a um cristão. E também acho que o mundo é muito pequeno para conter o passeio de um viajante da minha marca. Dê por certo que eu conheço tudo quanto é costume e sotaque, e até em língua estrangeira eu sou capaz de exprimir pensamento. Em Jeremoabo, uma cigana estabeleceu que rabo-de-saia é minha perdição; mas eu respondi que era meu prazer e cachaça. Sou safado e gosto de putarias. Na minha viola, tiro muita cantiga de sem-vergonhice e nunca respeitei barba de cantador. Pode avisar na cidade que estou disposto a enfrentar dois tipos de gente: cantador de viola e jogador de damas. Já levei uma facada e dois tiros, mas também pé de ouvido de cabra safado conhece bem o peso de minha munheca.”

(Romance da Besta Fubana, p.54)

4 comentários:

Anônimo disse...

adoreiiiii o texto!!!!
ME EMPRESTA O LIVRO???
:D

xeru

Unknown disse...

Mas é inxirida a tal da welma...

eu ia pedir agorinha!

ME EMPRESTA ANTES??
:/

Unknown disse...

Menino Jessé poeta....Boa noite!Preocupa-me estar a palpitar ...enfim

No meu ROMANCE DA BESTA FUBANA esse seu texto está nas páginas 65e 66...mas o que muito me atraiu no romance é "Carlos Pena Filho que pintava de azul a noite, derramava poemas pelas calçadas e dialogava com suas musas. 0 SONETO DE DESMANTELO AZUL É INCRÍVEL. pag. 229 ...e a encantação e o enlevo de Orlando Timbu poeta e jornalista apaixonado. É linda a trajetória dele no romance.Cheia de variantes nas atitudes.
Um abraço
Roserlei

Jessé Costa disse...

Opa Roserlei,

essa diferença na paginação deve ser pq eu tou lendo a primeira edição, aquela lá de 1900 e lá vai o trem!!
Tou terminando de ler ainda, mas como vc pôde ver nesses comentários acima já estou recrutando mais fieis pra ICAS..

tem doido pra tudo nesse mundo!
um abraço!